Um PS mais à esquerda? Entre o optimismo e o criticismo
Alguns sectores da ala esquerda do PS mostram-se muito optimistas em relação à tentativa do PS de renovar a maioria “reposicionando-se à esquerda”. Veja-se um texto recente de Paulo Pedroso:
«Apesar das grandes diferenças ideológicas entre os partidos, os eleitores circulam entre eles. Muitos já votaram umas vezes no PS, outras no PCP e outras ainda no BE ou nos partidos de que nasceu. Todos o sabem. Mas o PS está a introduzir uma novidade na questão. Dá sinais de tentar renovar a maioria reposicionando-se à esquerda, dando prioridade às classes médias, combatendo as desigualdades, erradicando discriminações persistentes. Essa orientação gerará, evidentemente, dificuldades tácticas ao PCP e ao BE. Não será surpreendente, pois, que radicalizem o seu discurso sobre o PS enquanto não encontrarem novo rumo.» (Banco Corrido, 14/02/09).
É verdade que as pessoas podem votar ora num ora noutro partido, mas é muito duvidoso que as mudanças de sentido de voto se devam principalmente ao discurso pré-eleitoral ou às propostas programáticas de cada congresso. Por outro lado, os “sinais” hoje dados pela direcção do PS inserem-se na sua tentativa de impedir a fuga de parte do seu eleitorado de esquerda. Mas os sinais a que esse sector presta atenção não se confundem nem com o conteúdo da moção de Sócrates nem com o seu mais recente discurso de piscadela de olho.
As bases e o povo em geral têm uma inteligência prática que lhes permite perceber intuitivamente o grau de coerência e de demagogia que envolve as frases bonitas dos líderes políticos. «Faz o que eu te digo não faças o que eu faço», talvez seja uma frase a soar nas cabeças de muitos ex-eleitores do PS.
Por outro lado, quer dentro quer fora do PS há outras vozes e outras inquietações que também revelam a flagrante contradição entre discursos e práticas. As opções de voto resultam mais das lições tiradas do passado recente (a memória é realmente curta...) e porventura das promessas não cumpridas do que das novas promessas (memória curta, mas não tanto...). Sem dúvida que muitos desejariam destruir o chip da memória do eleitorado, mas isso ainda não é possível. Vejamos uma outra leitura mais crítica:
«Paulo Pedroso reconhece a inflexão centrista nesta legislatura, mas pensa que tudo mudará com a moção que o líder vai apresentar ao congresso, sobretudo se for vertida no programa de governo (PÚBLICO, 3/2/09). Outros militantes, como Joaquim Veiguinha (“O congresso de um partido fictício”, PÚBLICO, 31/1/09), são bastante mais cépticos. Será que só porque a moção esboça uma inflexão para a esquerda isso terá efectivamente implicações? É duvidoso. Não estava escrito no programa do partido e do governo, em 2005, que iriam mobilizar os professores para as reformas na educação? Estava. Mas foi a isso que se assistiu? Não. E como compaginar a aposta na educação e nas qualificações, que também estavam nos programas, com o brutal desinvestimento nas universidades públicas? E que dizer da vontade expressa na moção de valorizar o diálogo com os sindicatos, quando, apesar de alguns acordos na concertação social, uma das marcas fortes deste Governo têm sido o ataque aos sindicatos? Ou será que vamos assistir agora a uma inflexão ideológica, porque grande parte da chamada "ala esquerda" está agora com Sócrates? Mas tem estado sempre, no Parlamento e no Governo. E que diferença fez, nomeadamente em termos de votações parlamentares? Pouca ou nenhuma, exceptuando o grupo alegrista.» (André Freire, PÚBLICO, 16/02/09).
Eu, pessoalmente também estou mais do lado dos cépticos. Porém, isso não significa que deva subscrever o discurso radical daqueles que julgam estar a revolução e o fim do capitalismo ao virar da esquina. O país vai ter que ser governado, e prefiro que o seja com base em opções e políticas sociais de esquerda (ou de centro esquerda) do que entregar o poder ao total controlo de quem mais estimulou os factores da actual crise. Mas, o PS da unanimidade que vai reunir-se em breve em Espinho não parece estar em condições de assumir os (muitos) erros desta legislatura. E sem isso, sem um debate aberto e plural dentro do partido, as promessas de mudança não têm credibilidade. Veremos se a discussão aberta a independentes, agora proposta pelo PM – reeditar os Estados Gerais?... – terá condições para deslocar o PS mais para a esquerda...
Elísio Estanque
http://www.boasociedade.blogspot.com/, 17/02/09
É verdade que as pessoas podem votar ora num ora noutro partido, mas é muito duvidoso que as mudanças de sentido de voto se devam principalmente ao discurso pré-eleitoral ou às propostas programáticas de cada congresso. Por outro lado, os “sinais” hoje dados pela direcção do PS inserem-se na sua tentativa de impedir a fuga de parte do seu eleitorado de esquerda. Mas os sinais a que esse sector presta atenção não se confundem nem com o conteúdo da moção de Sócrates nem com o seu mais recente discurso de piscadela de olho.
As bases e o povo em geral têm uma inteligência prática que lhes permite perceber intuitivamente o grau de coerência e de demagogia que envolve as frases bonitas dos líderes políticos. «Faz o que eu te digo não faças o que eu faço», talvez seja uma frase a soar nas cabeças de muitos ex-eleitores do PS.
Por outro lado, quer dentro quer fora do PS há outras vozes e outras inquietações que também revelam a flagrante contradição entre discursos e práticas. As opções de voto resultam mais das lições tiradas do passado recente (a memória é realmente curta...) e porventura das promessas não cumpridas do que das novas promessas (memória curta, mas não tanto...). Sem dúvida que muitos desejariam destruir o chip da memória do eleitorado, mas isso ainda não é possível. Vejamos uma outra leitura mais crítica:
«Paulo Pedroso reconhece a inflexão centrista nesta legislatura, mas pensa que tudo mudará com a moção que o líder vai apresentar ao congresso, sobretudo se for vertida no programa de governo (PÚBLICO, 3/2/09). Outros militantes, como Joaquim Veiguinha (“O congresso de um partido fictício”, PÚBLICO, 31/1/09), são bastante mais cépticos. Será que só porque a moção esboça uma inflexão para a esquerda isso terá efectivamente implicações? É duvidoso. Não estava escrito no programa do partido e do governo, em 2005, que iriam mobilizar os professores para as reformas na educação? Estava. Mas foi a isso que se assistiu? Não. E como compaginar a aposta na educação e nas qualificações, que também estavam nos programas, com o brutal desinvestimento nas universidades públicas? E que dizer da vontade expressa na moção de valorizar o diálogo com os sindicatos, quando, apesar de alguns acordos na concertação social, uma das marcas fortes deste Governo têm sido o ataque aos sindicatos? Ou será que vamos assistir agora a uma inflexão ideológica, porque grande parte da chamada "ala esquerda" está agora com Sócrates? Mas tem estado sempre, no Parlamento e no Governo. E que diferença fez, nomeadamente em termos de votações parlamentares? Pouca ou nenhuma, exceptuando o grupo alegrista.» (André Freire, PÚBLICO, 16/02/09).
Eu, pessoalmente também estou mais do lado dos cépticos. Porém, isso não significa que deva subscrever o discurso radical daqueles que julgam estar a revolução e o fim do capitalismo ao virar da esquina. O país vai ter que ser governado, e prefiro que o seja com base em opções e políticas sociais de esquerda (ou de centro esquerda) do que entregar o poder ao total controlo de quem mais estimulou os factores da actual crise. Mas, o PS da unanimidade que vai reunir-se em breve em Espinho não parece estar em condições de assumir os (muitos) erros desta legislatura. E sem isso, sem um debate aberto e plural dentro do partido, as promessas de mudança não têm credibilidade. Veremos se a discussão aberta a independentes, agora proposta pelo PM – reeditar os Estados Gerais?... – terá condições para deslocar o PS mais para a esquerda...
Elísio Estanque
http://www.boasociedade.blogspot.com/, 17/02/09
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