José Sócrates e Manuel Alegre trocam declarações de desagrado
24.01.2009, Público, Leonete Botelho
O primeiro-ministro não gostou de ver deputados socialistas a votar uma espécie de moção de censura. O político-poeta responde na mesma moeda
A tensão entre Manuel Alegre e José Sócrates voltou ontem a subir a um ponto perto da ruptura depois da votação do projecto de lei do CDS-PP que previa a suspensão do processo de avaliação dos professores, uma reforma considerada central pelo Governo PS. Ao primeiro-ministro desagradou ver cinco deputados socialistas a votar ao lado do partido mais à direita do Parlamento e disse-o com todas as letras: "Não gostei." O ex-candidato presidencial, rosto dos socialistas desalinhados, respondeu-lhe à letra: "Também não gosto da política do Governo, nomeadamente na educação", afirmou ao PÚBLICO.
Esta troca de declarações de desagrado soa a fim de tréguas entre Sócrates e Alegre, depois de mais de um mês de conversas e negociações sobre o futuro do deputado num cenário de renovação de maioria socialista. Desde o Fórum das Esquerdas de Dezembro, têm sido vários os contactos directos e indirectos entre os dois, embora Alegre tenha dito, neste período, que a "porta é estreita" para o diálogo entre ambos. Ontem, estreitou-se um pouco mais.
A votação tinha terminado há pouco - com a maioria socialista de 121 deputados reduzida a 116, apenas mais três que os votos a favor - e já Sócrates, em Chaves, acusava a oposição de "oportunismo" e criticava os deputados socialistas que se lhe juntaram. "Vejo muita gente do PS a achar que não devemos fazer alianças com o CDS, mas vi agora alguns elementos do PS a votar com o CDS, e não gostei", afirmou. Uma alusão às declarações de Vera Jardim, antigo apoiante de Alegre, que defende que o PS não deve fazer alianças com o partido liderado por Paulo Portas.
PS canta vitória
Sócrates centrou, no entanto, as críticas nos partidos da oposição. "Acho lamentável que a única instituição neste país que, durante meses a fio, quer avaliar os professores seja o Governo. O que eu lamento é ver tanto oportunismo de todos os partidos que votam as moções uns dos outros, muitas vezes sem conhecerem as propostas, e com um único objectivo, o de se oporem ao Governo", afirmou.
O primeiro-ministro seguia a linha argumentativa que Augusto Santos Silva desenvolveu durante toda a semana e na qual insistiu ontem, durante e após o debate em plenário. Antes da votação, o ministro dos Assuntos Parlamentares fez ainda uma antevisão da "derrota" do CDS e a "vitória da agenda reformista do Governo". "Será a vitória dos deputados livres que não se deixaram chantagear nem intimidar, daqueles que não estão na câmara corporativa a defender interesses profissionais, mas a defender os interesses do povo português", afirmou, merecendo um forte aplauso da bancada socialista. Ao mesmo tempo, alguns deputados do PSD protestaram e apontaram para a última fila, onde se encontravam Alegre e as quatro deputadas que iriam votar a favor.
As palavras do ministro suscitaram reacções de todas as bancadas da oposição. "Não seja chantagista, não seja ameaçador. Estamos a votar este projecto porque não estamos numa câmara corporativa, estamos numa câmara livre", respondeu o líder da bancada do CDS, Diogo Feio. Cecília Honório, do BE, acusou Santos Silva de vir ao Parlamento "fazer chantagem sobre os deputados", enquanto Pedro Duarte, do PSD, considerou que a intervenção do ministro foi uma "espécie de comício interno".
Manuel Alegre também não gostou das palavras de Santos Silva. "Não lhe reconheço qualquer autoridade moral ou política para me dizer o que devo ou não fazer", afirmou ao PÚBLICO.
No final, "saiu vitorioso o grupo parlamentar socialista que se impôs a uma proposta que era uma autêntica moção de censura", afirmou o líder da bancada do PS e outro antigo apoiante de Manuel Alegre, Alberto Martins. Questionado sobre se o Governo se poderia demitir caso o projecto tivesse sido aprovado, Augusto Santos Silva recorreu à antiguidade clássica para responder: "A interpretação de sinais como forma de fazer política terminou com o fim Império Romano. Agora não temos de abrir nenhumas aves para saber de que lado estão os deuses quando tomamos decisões políticas."
Já antes, durante o debate, Ana Paula Barros havia recorrido a elementos da tragédia grega para colorir os argumentos do PS, ao acusar o CDS de "oferecer cicuta numa taça de refrescante champanhe". Ironia ou não, cicuta foi o veneno que matou Sócrates, o filósofo, condenado à morte pelos democratas atenienses.
Esta troca de declarações de desagrado soa a fim de tréguas entre Sócrates e Alegre, depois de mais de um mês de conversas e negociações sobre o futuro do deputado num cenário de renovação de maioria socialista. Desde o Fórum das Esquerdas de Dezembro, têm sido vários os contactos directos e indirectos entre os dois, embora Alegre tenha dito, neste período, que a "porta é estreita" para o diálogo entre ambos. Ontem, estreitou-se um pouco mais.
A votação tinha terminado há pouco - com a maioria socialista de 121 deputados reduzida a 116, apenas mais três que os votos a favor - e já Sócrates, em Chaves, acusava a oposição de "oportunismo" e criticava os deputados socialistas que se lhe juntaram. "Vejo muita gente do PS a achar que não devemos fazer alianças com o CDS, mas vi agora alguns elementos do PS a votar com o CDS, e não gostei", afirmou. Uma alusão às declarações de Vera Jardim, antigo apoiante de Alegre, que defende que o PS não deve fazer alianças com o partido liderado por Paulo Portas.
PS canta vitória
Sócrates centrou, no entanto, as críticas nos partidos da oposição. "Acho lamentável que a única instituição neste país que, durante meses a fio, quer avaliar os professores seja o Governo. O que eu lamento é ver tanto oportunismo de todos os partidos que votam as moções uns dos outros, muitas vezes sem conhecerem as propostas, e com um único objectivo, o de se oporem ao Governo", afirmou.
O primeiro-ministro seguia a linha argumentativa que Augusto Santos Silva desenvolveu durante toda a semana e na qual insistiu ontem, durante e após o debate em plenário. Antes da votação, o ministro dos Assuntos Parlamentares fez ainda uma antevisão da "derrota" do CDS e a "vitória da agenda reformista do Governo". "Será a vitória dos deputados livres que não se deixaram chantagear nem intimidar, daqueles que não estão na câmara corporativa a defender interesses profissionais, mas a defender os interesses do povo português", afirmou, merecendo um forte aplauso da bancada socialista. Ao mesmo tempo, alguns deputados do PSD protestaram e apontaram para a última fila, onde se encontravam Alegre e as quatro deputadas que iriam votar a favor.
As palavras do ministro suscitaram reacções de todas as bancadas da oposição. "Não seja chantagista, não seja ameaçador. Estamos a votar este projecto porque não estamos numa câmara corporativa, estamos numa câmara livre", respondeu o líder da bancada do CDS, Diogo Feio. Cecília Honório, do BE, acusou Santos Silva de vir ao Parlamento "fazer chantagem sobre os deputados", enquanto Pedro Duarte, do PSD, considerou que a intervenção do ministro foi uma "espécie de comício interno".
Manuel Alegre também não gostou das palavras de Santos Silva. "Não lhe reconheço qualquer autoridade moral ou política para me dizer o que devo ou não fazer", afirmou ao PÚBLICO.
No final, "saiu vitorioso o grupo parlamentar socialista que se impôs a uma proposta que era uma autêntica moção de censura", afirmou o líder da bancada do PS e outro antigo apoiante de Manuel Alegre, Alberto Martins. Questionado sobre se o Governo se poderia demitir caso o projecto tivesse sido aprovado, Augusto Santos Silva recorreu à antiguidade clássica para responder: "A interpretação de sinais como forma de fazer política terminou com o fim Império Romano. Agora não temos de abrir nenhumas aves para saber de que lado estão os deuses quando tomamos decisões políticas."
Já antes, durante o debate, Ana Paula Barros havia recorrido a elementos da tragédia grega para colorir os argumentos do PS, ao acusar o CDS de "oferecer cicuta numa taça de refrescante champanhe". Ironia ou não, cicuta foi o veneno que matou Sócrates, o filósofo, condenado à morte pelos democratas atenienses.
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