Novo partido?
Elísio Estanque,
blog " boasociedade.blogspot.com",Terça-feira, Janeiro 13, 2009
É necessário assumir a necessidade de uma renovação do pensamento e da prática política da esquerda. É necessário uma esquerda para o século XXI, fundada num novo paradigma. Muitos acreditam até que este já está em germinação e que passa, entre outras coisas, pelas iniciativas em torno da figura de Manuel Alegre (MA) e da corrente de opinião socialista por ele dinamizada.
Muita gente tem vindo a pressionar e até a “exigir” de MA que crie um novo partido. A comunicação social anda agitadíssima em torno dessa ideia. Provavelmente se tal iniciativa se viesse a consumar, e sobretudo se isso fosse feito de uma forma precipitada, daria jeito a muito boa gente do actual leque político-partidário.
Concordo que o movimento criado pela candidatura presidencial de MA – pelo seu contributo inovador, pelo discurso aglutinador de diferentes sensibilidades, pelo exemplo de exercício de cidadania e em especial pelo impacto político que já teve – deu início a um novo ciclo, a uma nova forma de conceber a política, os partidos e os movimentos. Acredito que a importância desta experiência pode vir a ser marcante (já está a sê-lo) da vida pública e da política portuguesa nos próximos tempos. Mas estou convencido que a sua importância será tanto maior quanto mais os seus protagonistas sejam capazes de fazer a diferença.
O que implica não haver precipitações em criar uma força eleitoral que poderia causar muitos estragos mas não servir para mais do que isso. Poderia até desaparecer logo a seguir, à semelhança do ex-PRD. Um novo partido, a surgir, tem de partir de uma confluência muito ampla de vontades, inclusive por parte de sectores e forças que já estão no terreno. Implica, como disse MA uma série de rupturas prévias com os próprios dogmatismos e ortodoxias em que potenciais intervenientes estão ainda enredados. O movimento, para se manter coerente em relação às expectativas que criou, tem de dar o exemplo – no discurso e na prática –, mostrar que se guia por valores éticos ao serviço do interesse público e de uma política limpa.
A criação de um partido promovido pelo alegrismo é uma possibilidade, mas a meu ver não no curto prazo, não no imediato. A não ser que novos e inesperados acontecimentos o justifiquem. Um partido pode nascer diferente, mas rapidamente se tornar igual aos outros, imitando-lhe os mesmos vícios e perversões. E se o que se pretende é contribuir para novas políticas e para novas formas de exercer “a política”, há que ter algum cuidado. Há que pensar não apenas no “acto” de criar, mas no processo e na forma de sustentar um tal projecto.
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