M!CporCoimbra

2006/06/21

Mais polémicas na Saúde... Os cidadãos observam!

Hoje, no jornal Centro (e noutros media)

Pedro Ferreira é professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Especialista em economia da saúde, coordena o Observatório Português dos Sistemas da Saúde. O OPSS publicou recentemente o seu 6º Relatório (Relatório de Primavera 2005), cuja leitura recomendamos.

Pedro Ferreira é membro do MIC/Coimbra

Transcreve-se um artigo do Jornal da Universidade (Maio 2006), assinado por Nelson Mateus, em que Pedro Ferreira aborda a actividade do Centro de Estudos e Investigação em Saúde (CEIS), que dirige, bem como outros assuntos da área da saúde

A avaliação da qualidade da prestação dos cuidados de saúde em Portugal constitui boa parte do trabalho do Centro de Estudos e Investigação em Saúde (CEIS) da Universidade de Coimbra. Num projecto que junta especialistas das Faculdades de Economia, de Medicina e de Farmácia são analisados os mais variados aspectos da área da saúde, desde as orientações políticas para o sector até às condições em que os serviços são prestados.

Com muitos anos a olhar atentamente para a saúde em Portugal, Pedro Ferreira, Director do CEIS, não hesita em afirmar que "as pessoas não dizem mal do tempo que estão com o médico", mas criticam o tempo de espera e a organização dos serviços. Um dos extensos trabalhos já realizados pelo CEIS foi um diagnóstico a todos os centros de saúde do país. De acordo com o responsável pelo Centro de Estudos, não se tratou de uma "análise à rede, mas ao impacto nos utilizadores". As conclusões já estão disponíveis há algum tempo e agora "falta que os centros de saúde peguem nos resultados" e procurem melhorar o que não está bem, acrescenta o Director do CEIS.

"Um dos problemas do nosso sistema de saúde é o acesso, não é o serviço prestado. Ainda há fortes défices no acesso", sublinha. Uma realidade que Pedro Ferreira explica, em parte, com a crónica falta de organização dos serviços de saúde no país. "A saúde nunca, ou raras vezes, foi considerada uma área estratégica em Portugal", acrescenta.

0 diagnóstico que o Director do CEIS faz das políticas de saúde é muito claro: "A preocupação dos Governos tem sido mais a poupança de dinheiro". Entende, igualmente, que o papel social dos serviços de saúde não é tido em conta pelos responsáveis políticos que esquecem também que "a saúde não é como qualquer outra área económica". Quando a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é, com frequência, questionada, Pedro Ferreira defende que "do ponto de vista do serviço" o SNS é sustentável, embora haja "muito para fazer" em termos financeiros.

Reconhecendo que se partiu de valores muito baixos, o responsável do CEIS destaca os resultados obtidos na melhoria dos serviços de saúde em Portugal nas últimas décadas. "0 crescimento da qualidade tem sido muito bom, temos avanços em todos os sentidos", sendo que os maiores problemas estão centrados "na falha de governação, na falta de estratégia".

MAIOR ESTUDO A NÍVEL MUNDIAL

Um trabalho que está praticamente concluído é o estudo que o CEIS realizou para avaliar a prevalência e incidência de úlceras de pressão, habitualmente designadas por escaras. Estas feridas surgem sobretudo em doentes que ficam acamados por períodos de tempo mais longos.
A análise desenvolvida pelo CEIS permite aferir a qualidade dos serviços prestados a esses doentes, já que um bom serviço conseguiria minimizar o aparecimento das úlceras de pressão. 0 extenso trabalho realizado passou pela avaliação do estado de cerca de 8o mil doentes, o que torna este estudo num dos maiores já realizados sobre o assunto a nível internacional.

COLABORAÇÃO COM 0 OBSERVATÓRIO

Além de responsável do CEIS, Pedro Ferreira desempenha também as funções de Coordenador do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, entidade que agora está localizada em Coimbra. 0 Observatório não se assume como um fiscal das agenda política de cada Governo para a saúde, pretende antes analisar de forma objectiva o estado do sistema de saúde desde o nível da governação até ao serviço concreto que é prestado. A credibilidade do Observatório tem vindo a ser cimentada pela análise que realiza anualmente, cujos resultados são depois publicados nos já conhecidos relatórios de Primavera.

Segundo Pedro Ferreira, a mudança do Observatório para Coimbra vem "potenciar o trabalho do Centro de Estudos". Isto porque "o Observatório é o resultado do trabalho de pessoas que pertencem a diferentes instituições", e a proximidade com o CEIS faz com que quem trabalha no Centro de Estudos fique particularmente envolvido na análise que é desenvolvida pelo Observatório.

Tanto no caso do Observatório como do CEIS, um dos fortes contributos para o trabalho que é realizado vem do facto destas instituições integrarem pessoas de áreas profissionais distintas. "Numa área multidisciplinar como esta temos que tirar partido da formação variada das pessoas das várias áreas", sintetiza Pedro Ferreira.

A variedade possibilita que as questões sejam abordadas de diferentes formas que se complementam e permitem conclusões mais abrangentes.

CONSTRUIR A ÁREA DE ESTUDOS DE ECONOMIA DA SAÚDE

Foram necessários quase dez anos de existência do CEIS para que fosse formalizada a candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Pedro Ferreira assume a opção por um crescimento tranquilo do Centro de Estudos. "Nunca houve pressa, quisemos fazer as coisas com calma", sublinha.

Com a colaboração de um grupo de cerca de uma dezena de pessoas, o CEIS pretende ser um espaço em que "se juntam opiniões diferentes". "Nunca quisemos que o Centro fosse o local onde púnhamos os nossos trabalhos", continua Pedro Ferreira, que entende que o projecto "tem que se ir formando".

O CEIS desenvolve trabalhos em várias áreas, como é o caso da análise das políticas de saúde e governação - em que avalia, por exemplo, a governação hospitalar na Região Centro. A política do medicamento é outro campo de trabalho do Centro, com estudos sobre a regulação do medicamento, a caracterização da prescrição do medicamento ou dos custos do medicamento.

Um outro projecto que vem sendo desenvolvido é o da "criação em português de instrumentos de medição da qualidade de vida". Na prática, o CEIS trabalha critérios que já são usados noutros paííses e adapta-os à realidade nacional, de forma a criar parâmetros que permitam avaliar a qualidade de vida relacionada com a saúde.

À medida que os estudos do CEIS foram sendo conhecidos, o pedido de novos trabalhos foi aumentado, mas a falta de pessoas tem limitado a capacidade de resposta. Dinamizar a investigação na área de Economia da Saúde é um dos objectivos do CEIS. Daí que Pedro Ferreira destaque o empenho com que está a ser encarada a criação, na Faculdade de Economia da UC, desta área de estudos. Nesse âmbito vai agora ter início uma pós-gradução e existe já um mestrado em Gestão e Economia da Saúde. A aposta na formação nesta área acaba também por ser uma forma do Centro de Estudos criar condições para poder aumentar o número de colaboradores, uma vez que são formados mais especialistas nas matérias relacionadas com a Economia da Saúde.