ALEGRE
Mário Contumélias, Docente universitário
Mário Contumélias escreve no JN, quinzenalmente, às sextas-feiras
Manuel Alegre voltou a fazer ouvir a sua voz. Disse que há muita precariedade em Portugal, relevou a alta taxa de desemprego existente no país, classificou de imoral o capitalismo, e desafiou para o combate ao neoliberalismo. E disse mais que as condições em que vivemos remetem para a responsabilidade de "um bloco central de interesses" e que PS e PSD, "sendo diferentes, estão cada vez mais iguais".
Pode afirmar-se que Alegre não disse nada que fosse novo, pelo menos no discurso que lhe conhecemos; mas o certo é que disse o essencial. A verdade é que, apesar dos entusiasmos de Sócrates acerca do bom caminho em que Portugal se encontra, os números atestam o elevadíssimo desemprego, a chocante precariedade em que vivemos; a verdade é que, com este capitalismo, mais dia menos dia, ninguém se salva.
Mas, sobretudo, Alegre veio mostrar que, na política portuguesa há, pelos menos, duas visões do mundo. Uma, que acha que não produzimos riqueza suficiente e que as desigualdades são naturais; e outra, que entende que o problema é a injusta distribuição da riqueza e a crescente destruição do Estado social pela revolução neoliberal.
É que, com o apagão do PSD, a quem Sócrates roubou o espaço político com a revisão do PS ao Centro, o entendimento do mundo do presidente do Conselho de Ministros corre o risco de se imprimir na mente dos portugueses - se ele diz que é assim e ninguém o desdiz, é porque deve ser verdade. Ora, o que Alegre nos mostra com as suas palavras é que pode ser mentira. Dá-nos, pois, outra possibilidade de entender o real à nossa volta. E isso merece ser saudado.
Para mais, Alegre prova que, até no PS, há socialistas aos quais não hesita em confiar o seu poder simbólico. E é agradável sabê-lo, porque, em Portugal, há socialistas que não se revêem no PS e que por isso estarão prontos a integrar "um movimento de opinião pública que se reflicta dentro do partido".
Não se sabe como pensa Alegre facilitar na prática, se é esse realmente o objectivo, essa viagem das ideias de fora para dentro do PS. Ou será que tudo o que pretende é instituir uma tendência política autónoma no dito Partido Socialista, para assim obter representatividade "na opinião pública e no país"? Esta é uma questão que não fica clara nos ecos que nos chegaram do jantar de Lisboa.
Seja como for, Alegre, com esta iniciativa, talvez não venha a reformar o PS, mas, pelo menos, e não é dispiciendo, deu um passo no caminho do "refrescar da democracia". E este último é um caminho de todos os que se entendem como cidadãos. E implica escolhas, como todos os outros.
Apoiante de Alegre na candidatura a Belém, Ana Jorge, a nova ministra da Saúde, não filiada no PS, foi durante anos assistente do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, que o Governo parece querer desactivar. Pelo menos, corre na Internet uma petição que visa salvar o "Hospital da Estefânia" da "gradativa diluição no Centro Hospitalar de Lisboa Central e, a seu tempo, no futuro Hospital de Todos-os-Santos".
Essa petição, que defende "a manutenção e o desenvolvimento do Hospital de Dona Estefânia", é dirigida ao presidente da República, e já recolheu mais de 73 mil assinaturas. É assim um indicador do sentir da opinião pública, ao menos dos pais e mães lisboetas, embora não apenas. Os signatários esperarão da nova ministra, que conhece bem o hospital, uma palavra acerca do assunto e, sobretudo, o anúncio de um propósito claro.
Está ao alcance da ministra dar, também, um passo no "refrescar da democracia". Veremos o que acontece.
Pode afirmar-se que Alegre não disse nada que fosse novo, pelo menos no discurso que lhe conhecemos; mas o certo é que disse o essencial. A verdade é que, apesar dos entusiasmos de Sócrates acerca do bom caminho em que Portugal se encontra, os números atestam o elevadíssimo desemprego, a chocante precariedade em que vivemos; a verdade é que, com este capitalismo, mais dia menos dia, ninguém se salva.
Mas, sobretudo, Alegre veio mostrar que, na política portuguesa há, pelos menos, duas visões do mundo. Uma, que acha que não produzimos riqueza suficiente e que as desigualdades são naturais; e outra, que entende que o problema é a injusta distribuição da riqueza e a crescente destruição do Estado social pela revolução neoliberal.
É que, com o apagão do PSD, a quem Sócrates roubou o espaço político com a revisão do PS ao Centro, o entendimento do mundo do presidente do Conselho de Ministros corre o risco de se imprimir na mente dos portugueses - se ele diz que é assim e ninguém o desdiz, é porque deve ser verdade. Ora, o que Alegre nos mostra com as suas palavras é que pode ser mentira. Dá-nos, pois, outra possibilidade de entender o real à nossa volta. E isso merece ser saudado.
Para mais, Alegre prova que, até no PS, há socialistas aos quais não hesita em confiar o seu poder simbólico. E é agradável sabê-lo, porque, em Portugal, há socialistas que não se revêem no PS e que por isso estarão prontos a integrar "um movimento de opinião pública que se reflicta dentro do partido".
Não se sabe como pensa Alegre facilitar na prática, se é esse realmente o objectivo, essa viagem das ideias de fora para dentro do PS. Ou será que tudo o que pretende é instituir uma tendência política autónoma no dito Partido Socialista, para assim obter representatividade "na opinião pública e no país"? Esta é uma questão que não fica clara nos ecos que nos chegaram do jantar de Lisboa.
Seja como for, Alegre, com esta iniciativa, talvez não venha a reformar o PS, mas, pelo menos, e não é dispiciendo, deu um passo no caminho do "refrescar da democracia". E este último é um caminho de todos os que se entendem como cidadãos. E implica escolhas, como todos os outros.
Apoiante de Alegre na candidatura a Belém, Ana Jorge, a nova ministra da Saúde, não filiada no PS, foi durante anos assistente do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, que o Governo parece querer desactivar. Pelo menos, corre na Internet uma petição que visa salvar o "Hospital da Estefânia" da "gradativa diluição no Centro Hospitalar de Lisboa Central e, a seu tempo, no futuro Hospital de Todos-os-Santos".
Essa petição, que defende "a manutenção e o desenvolvimento do Hospital de Dona Estefânia", é dirigida ao presidente da República, e já recolheu mais de 73 mil assinaturas. É assim um indicador do sentir da opinião pública, ao menos dos pais e mães lisboetas, embora não apenas. Os signatários esperarão da nova ministra, que conhece bem o hospital, uma palavra acerca do assunto e, sobretudo, o anúncio de um propósito claro.
Está ao alcance da ministra dar, também, um passo no "refrescar da democracia". Veremos o que acontece.
Mário Contumélias escreve no JN, quinzenalmente, às sextas-feiras
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