M!CporCoimbra

2007/05/12

Era uma vez, a 12 de Maio ...

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Uma vez, tinha eu 6 anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado " Histórias Vividas". Era uma jibóia a engolir uma fera. (...)
(...) O livro explicava: " As jibóias engolem presas inteirinhas, sem as mastigar. Depois nem sequer se podem mexer e ficam a dormir durante os seis meses que a digestão demora".
Então, (...) peguei num lápis de cor e acabei por conseguir fazer o meu primeiro desenho. O meu desenho número 1. Era assim:

Fui mostrar a minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei-lhes se o meu desenho lhes metia medo.
As pessoas grandes responderam: " Como é que um chapéu pode meter medo?"
O meu desenho não era um chapéu. O meu desenho era uma jibóia a engolir um elefante. Para as pessoas grandes conseguirem perceber, porque as pessoas grandes estão sempre a precisar de explicações, fui desenhar a parte de dentro da jibóia. O meu desenho número 2 ficou assim:

As pessoas grandes disseram que era melhor eu deixar-me de jibóias abertas e jibóias fechadas e dedicar-me antes à geografia, à história e à matemática. (...)
(...) Evidentemente que, pela vida fora, tive uma data de contactos com uma data de gente importante. Vivi muito tempo no mundo das pessoas grandes. Vi-as bem de perto. Não fiquei com muito melhor opinião delas.
Quando encontrava uma que me parecia um poucochinho mais lúcida fazia-lhe a experiência do meu desenho número 1. Queria apurar se ela era mesmo capaz de perceber alguma coisa. Mas, invariavelmente, todas respondiam: " É um chapéu ". Então não me punha a falar de jibóias, de florestas virgens ou de estrelas. Punha-me ao seu nível. Falava de bridge, de golfe, de política e de gravatas. E a pessoa grande ficava toda contente por ter conhecido um homem com tanto juízo. (...) "

PARABÉNS, MANUEL ALEGRE

( extrato retirado do livro " O Principezinho " de Antoine de Saint-Exupéry )