A Culpa não é de Coimbra
Coimbra não vive os seus melhores dias.
Longe vão os tempos em que “ser de Coimbra” valia um estatuto diferenciador do resto do país. Essa Coimbra tinha qualquer coisa mais ou para além do que identificava as outras cidades. Disso nos orgulhávamos, nós, os de Coimbra.
Dentro ou fora das suas muralhas era “isso” que arrastávamos dentro de nós. E “isso” era, afinal, o quê? Creio que tinha a ver com uma certa aprendizagem do mundo, um olhar a um tempo sereno e inquietante sobre a sociedade, o culto dum humor particular, inteligente, uma reconhecida maturidade intelectual.
Creio ainda que “isso” tinha raiz no nosso território colectivo – o espaço em que nos movimentávamos, lugar antigo e significante, sítio de história continuada - a de ontem, presente nos túmulos da Igreja de Santa Cruz, nas pedras da Baixa medieval que viram partir D. Pedro, ou nas calçadas da Alta sábia e boémia, que acolheria muitos dos mais expressivos movimentos literários portugueses, mas também a história dos dias mais próximos, em que o cenário seria a Universidade ou a A.A.C. e os estudantes protagonistas dos novos caminhos para a Liberdade e a Democracia.
“Isso” era também o treino das tertúlias nos cafés, nas livrarias, entretanto desaparecidas.
Tudo “isso” contribuiu para acrescentar à cidade um certo impulso criador e genuíno e munir os seus munícipes de uma certa atitude de exigência e questionamento.
Não sei para onde foi tudo isso!
Esta Coimbra é uma cidade conformada e “quietinha” (como diria Teixeira de Pascoaes). Demitiu-se da sua responsabilidade histórica, da sua tradição municipalista, da sua vocação universalista.
Recuou nos seus objectivos de cidade de marca, desistiu do seu reencontro com os sinais do mundo contemporâneo, perdeu o passo nos palcos da cultura, asilou-se na província e ficou assim, como agora a vemos – uma cidade à qual ninguém faz vénias, adormecida na ausência da sua importância.
Por mim não me conformo!
Mas quem lhe aponta outro caminho?
Observo os registos dos diferentes protagonistas do nosso quadro democrático local e só detecto frouxidão, silêncios e até estranhas cumplicidades.
Espero mais e melhor!
Não me basta, como parece bastar a um conhecido professor universitário, em entrevista a um diário local, que “o vereador da cultura pelo menos, dinamizou uma comissão de Toponímia”.
Eu, munícipe de Coimbra quero mais e quero outra Coimbra, depressa! Entretanto alguém há-de pagar pelo estado das coisas. Esta desgovernação, aliada a uma enorme incapacidade e incompetência, tem nome e tem uma identificação partidária.
Para que não se diga depois, como António Nobre em “Carta a Manoel”,
“Manoel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,
Foi Coimbra.”
Teresa Alegre Portugal
1 comentários:
Adorei! Disse tudo. Estamos demasiado conformados. Já não nos opomos, já não reagimos. Ficamos apáticos a ver a nossa derrocada. Temos que reagir. Não podemos permitir que aniquilem a identidade de Coimbra.
Nós somos únicos!
By Anónimo, às terça-feira, maio 08, 2007 8:48:00 da tarde
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