Faleceu Eduardo Prado Coelho, intelectual público
Faleceu hoje de manhã, na sua residência, vítima de doença súbita, Eduardo Prado Coelho. Tinha 63 anos. Professor, ensaísta e escritor, Eduardo Prado Coelho era colaborador do PÚBLICO desde o primeiro número, tendo mantido nos últimos dez anos uma coluna de segunda a sexta-feira, O Fio do Horizonte. O corpo de Eduardo Prado Coelho estará no Palácio Galveias hoje a partir das 17h30, de onde seguirá amanhã para o cemitério dos Prazeres, pelas 11h00.
Crítico literário e polemista, era presença assídua no espaço público onde se envolvia de forma activa nos debates culturais e políticos. Intelectual público, envolveu-se várias vezes em campanhas políticas.
Nasceu em Lisboa, a 29 de Março de 1944, e seguiu os caminhos do pai, o catedrático Jacinto do Prado Coelho, tendo-se licenciado em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1983 doutorar-se-ia na mesma escola, onde já era assistente, com uma tese sobre A Noção de Paradigma nos Estudos Literários.
A sua carreira académica prosseguiu, em 1984, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde chegou a professor associado no Departamento de Ciências da Comunicação. Pelo meio fixou uma passagem pelo Departamento de Estudos Ibéricos da Sorbonne, para onde foi ensinar em 1988.
Autor prolífico, deixa uma vasta bibliografia universitária e ensaística, onde se destacam um longo estudo de teoria literária, Os Universos da Crítica: Paradigmas nos Estudos Literários, 1983, vários livros de ensaios, O Reino Flutuante, 1972, A palavra sobre a palavra, 1972, A letra litoral, 1978, Vinte Anos de Cinema Português (1962-1982), 1983, A mecânica dos fluidos, 1984, A noite do mundo, 1988, dois volumes de um diário, Tudo o que não escrevi, 1992, obra que lhe granjeou o Grande Prémio de Literatura Autobiográfica da Associação Portuguesa de Escritores, O cálculo das Sombras, 1997, Situações de Infinito, 2004. Tem ainda um volume de Obra Poética.
As suas crónicas no PÚBLICO mereceram, em 2004, o Grande Prémio de Crónica João Carreira Bom, estando muitas delas reunidas em Crónicas no Fio do Horizonte, das Edições Asa
Desempenhou vários cargos públicos, tendo sido director-geral de Acção Cultural no Ministério da Cultura em 1975/76, um departamento criado após a Revolução de 25 de Abril de 1974. Mais tarde, entre 1989 e 1998, foi conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris e, em 1997, director do Instituto Camões na mesma cidade. Foi Comissário para a Literatura e o Teatro da Europália Portuguesa, em 1990, e colaborou na área de colóquios na Lisboa Capital Europeia da Cultura 94. Foi ainda o comissário da participação portuguesa no Salon du Livre /2000, ano em que Portugal foi o país-tema da grande feira literária de Paris.
Entre as suas obras mais recentes, refiram-se os seus Diálogos sobre a fé, uma troca de cartas com o Cardeal Patriarca D. José Policarpo, Dia Por Ama (textos sobre o amor, escritos em parceria com Ana Calhau, apresentando as perspectivas feminina e masculina sobre o tema e complementado com fotografias também de Ana Calhau), Razão do Azul, 2004, sendo Nacional e Transmissível, 2006 o seu último livro editado, onde escreveu sobre objectos, comportamentos, locais emblemáticos ou características que formam o que poderíamos chamar a idiossincrasia portuguesa.
Deixou ontem, ao fim da tarde, na caixa de correio do PÚBLICO a sua última crónica: AiSimplex! Será publicada na edição do jornal de amanhã, domingo.
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