PS cerra fileiras em defesa da ministra, mas ala esquerda não lhe dá grande futuro
[PMF, LUSA, 01-03-2008] |
A maioria dos deputados socialistas considera que a ministra da Educação reúne condições políticas para cumprir o seu mandato até ao fim, mas a ala esquerda do partido critica-a e suspeita que a corda "pode quebrar".
"Não sei até onde a corda aguenta esticar, mas ela pode quebrar. Gostaria, por isso, que houvesse um sinal e um sinal socialista só pode ser o do caminho do diálogo", declarou à agência Lusa a deputada do PS Teresa Alegre Portugal, comentando o actual ambiente político em torno da ministra da Educação.
Luís Fagundes Duarte, tal como Teresa Alegre Portugal deputado da Comissão Parlamentar de Educação, apresenta uma perspectiva diametralmente oposta sobre o futuro político de Maria de Lurdes Rodrigues.
"A ministra da Educação tem todas as condições para cumprir o seu mandato até ao final da legislatura. Maria de Lurdes Rodrigues tomou medidas impopulares para alguns sectores, mas essas medidas tinham que ser tomadas", sustentou o deputado socialista, defendendo uma tese idêntica à da maioria dos elementos da bancada do PS.
Luís Fagundes Duarte rejeitou também qualquer semelhança entre o processo que levou à exoneração do ex-ministro da Saúde Correia de Campos e o actual ambiente de contestação em relação à titular da pasta da Educação.
"A ministra da Educação tem toda a solidariedade do Governo e da esmagadora maioria dos socialistas, porque está actuar de acordo com o programa do Governo, que foi sufragado pelos portugueses nas últimas eleições", apontou.
Embora apresente razões distintas face aos argumentos invocados por Luís Fagundes Duarte, também o presidente do PS/Setúbal, Vítor Ramalho, discorda que existam analogias entre o processo que levou à queda de Correia de Campos e a actual situação da ministra da Educação.
"Enquanto na saúde os protestos foram localizados e envolveram utentes, na educação estamos perante uma reacção corporativa e organicamente unitária", advogou Vítor Ramalho.
No entanto, para este apoiantes da corrente socialista ligada a João Soares, nem por isso o desafio da ministra da Educação é mais fácil do que aquele com que se confrontou o Governo no sector da saúde.
"Na saúde, os protestos foram localizados geograficamente e também em relação às suas causas (encerramento de maternidades ou de serviços de urgência). Na educação, os protestos não têm a ver com a escola A ou B, mas com a classe dos professores em geral", disse.
Ou seja, segundo Vítor Ramalho, a ministra da Educação "está confrontada com um exército muito mais unido do que aquele que enfrentou Correia de Campos".
Apesar de considerar que Maria de Lurdes Rodrigues tem condições para cumprir o seu mandato até ao final da legislatura, Vítor Ramalho entende que a margem de manobra da titular da pasta da educação é muito limitada.
"Na saúde é mais fácil adaptar a reforma. Na Educação, a ministra cumpre ou não cumpre aquilo a que se propôs", acrescentou.
Vítor Ramalho demarcou-se ainda do discurso oficial do Governo quanto aos motivos inerentes aos protestos dos professores contra a ministra.
"Não estamos somente perante uma reacção sindical. Há uma reacção corporativa dos professores com uma base alargada", referiu.
Pelo contrário, Luís Fagundes Duarte defendeu que os protestos têm na sua origem "leituras de dados enviesados, como é o caso da contestação à avaliação dos professores".
O deputado socialista dos Açores reconheceu apenas a existência "de problemas de ordem técnica" por parte do Ministério da Educação, no que concerne à aplicação das medidas no terreno.
Teresa Portugal, irmã do ex-candidato presidencial Manuel Alegre, disse encarar "com grande preocupação a situação criada em torno das questões da Educação".
"A escola é por definição um local de paz e tolerância e os professores são o corpo desses valores", salientou, antes de deixar um recado.
"Tenho comigo a imagem conhecida de um professor checo que, prisioneiro num campo de concentração, conseguiu aí fazer um simulacro de escola para as crianças aí também prisioneiras e transformou aquele local de inferno num espaço de sobrevivência, de que resta um comovente caderno de poemas e desenhos infantis sobre a liberdade", declarou.
Ora, de acordo com Teresa Portugal, com a política da ministra da Educação "instalou-se uma guerra, gerada sobre um clima de crescente conflitualidade".
"Quebraram-se os laços. De um lado temos os professores, que se sentem atingidos na sua dignidade profissional, e do outro a ministra que, convicta de que o futuro da escola pública depende da sua reforma, não vacila na sua aplicação", justificou a deputada socialista.
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