M!CporCoimbra

2006/07/19

A Cidadania como a possibilidade de sonhar

Outro dia, um paciente meu, toxicodependente em tratamento, dizia-me:
" Sabe Dr.ª, a vida pregou-me uma partida. No ano 2000 fui para o Casal Ventoso, pensando que nunca mais de lá sairia. Afinal saí em 2001, deixei de consumir e fiquei seropositivo para o VIH. Actualmente tenho 43 anos, não tenho emprego e estou vivo. A vida pregou-me uma grande partida ".
Não me ocorreu então nenhuma resposta inteligente . Posteriormente veio-me à memória uma frase que durante alguns anos ouvi a um reputado colega, com quem trabalhei:
" Enquanto há esperança, há vida".
Uma das piores coisas que pode acontecer a quem está vivo é perder a esperança, deixar de esperar que aconteçam mudanças possíveis na sua realidade. Especialmente se esta é pouco agradável, resumindo a existência a uma subsistência, necessáriamente vazia de conteúdos emocionais. Se é necessário que as condições básicas de sobrevivência estejam providas para ser possível aspirar a outras metas na vida, é também verdade que quando estas (as metas) não existem, e são impossíveis de sonhar, estar vivo pode tornar-se em algo de perverso. A aprendizagem da cidadania é também esta capacidade e possibilidade de um indivíduo ter, tanto a nível pessoal como a nível social, opiniões, desejos, sonhos. Se agir em conformidade vai provocar mudanças necessárias no seu meio ambiente. É assim uma das respostas possíveis.
Já dizia António Gedeão: "Eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida,/ tão concreta e definida, / como outra coisa qualquer/"...