Quando os cidadãos reagem, as coisas mudam ...
Não sei quais foram as reacções, nos outros países europeus, em relação à possibilidade legal de uma empresa não contratar um funcionário só pelo facto de ele ser fumador. Imagino que as tenha havido. Em Portugal foram bastantes os artigos de opinião nos media relacionados com esse tema. Ao mesmo tempo que se indignavam com o facto em si, temiam pelos riscos futuros que tal precedente iria, forçosamente, criar.
Estamos num momento civilizacional em que as liberdades individuais mais elementares estão em perigo. Os conceitos mais maniqueistas entre bem e mal, certo e errado, estão a ganhar terreno neste mundo globalizado. Para ser possível um controlo efectivo da sociedade, usa-se e abusa-se perversamente do chavão "a nossa sociedade de liberdades está em risco", para em seguida se coartar essas mesmas liberdades segundo formas inimagináveis há uns anos atrás.
É no primado da economia que tudo é justificável ou que se pode ir procurar as justificações, se estas derem jeito.
Todos os avanços conseguidos no século XX - a evolução científica, tecnológica, económica - melhoraram as condições de vida. Por outro lado, o prazer tornou-se um bem consumível, publicitado e encorajado, sempre que a sociedade o considere como positivo. E uma das consequências deste tipo de consumo é a morte do desejo. Este deixou de ser algo que se idealiza (o que implica saber esperar e manter como objectivo até que as condições de vida possam permitir a sua concretização), para passar a ser "usufrua hoje, em prestações, o que nós garantimos ser o seu desejo".
É óbvio que a existência , por detrás deste tipo de consumo, de poderosas forças económicas, constitui a principal razão dos "novos moralismos" sociais: "o que foi bom ontem pode ser prejudicial e estigmatizante amanhã, ou vice-versa; nós é que sabemos o que é bom para si e o que você necessita".
Coisas tão naturais como a doença, o envelhecimento e a morte tornaram-se quase vergonhosas, sendo vividas, de preferência, às escondidas, recaindo sobre esses sujeitos a culpabilização e a censura social dos seus problemas.
Um dos exemplos mais gritantes, apesar de se conhecerem os problemas de saúde que os fumadores poderão vir a ter, é um dos avisos presentes nos pacotes de cigarros que diz: "Fumar mata". Por dedução lógica poderiamos chegar à conclusão (sem dúvida inaceitável) de que "Quem não fuma não morre".
A uma sociedade com características cada vez mais narcísicas, em que o "ter" é mais importante e mais poderoso que o "ser", junta-se um pseudo-moralismo normalizador em que os indivíduos deixaram de ser "seres únicos e insubstituíveis" para se tornarem em meros meios de que os governos se servem para os seus fins.
E o mais arrepiante é que, com o declínio e a desqualificação das ideologias como algo de ultrapassado, entendendo estas como posturas filosóficas para uma definição pessoal da vida, o que resta é o dinheiro.
Longe vão os tempos em que Marguerite Yourcenar, no seu livro "As Memórias de Adriano" escreveu: "... houve um tempo em que entre a morte de César e o nascimento de Cristo o que existia era o homem ...".
Desta vez a Comissão Europeia, penso que pressionada pelas reacções dos cidadãos, emendou a mão. Até quando?
Esta é mais uma razão para a existência e intensificação de movimentos cívicos.
Estamos num momento civilizacional em que as liberdades individuais mais elementares estão em perigo. Os conceitos mais maniqueistas entre bem e mal, certo e errado, estão a ganhar terreno neste mundo globalizado. Para ser possível um controlo efectivo da sociedade, usa-se e abusa-se perversamente do chavão "a nossa sociedade de liberdades está em risco", para em seguida se coartar essas mesmas liberdades segundo formas inimagináveis há uns anos atrás.
É no primado da economia que tudo é justificável ou que se pode ir procurar as justificações, se estas derem jeito.
Todos os avanços conseguidos no século XX - a evolução científica, tecnológica, económica - melhoraram as condições de vida. Por outro lado, o prazer tornou-se um bem consumível, publicitado e encorajado, sempre que a sociedade o considere como positivo. E uma das consequências deste tipo de consumo é a morte do desejo. Este deixou de ser algo que se idealiza (o que implica saber esperar e manter como objectivo até que as condições de vida possam permitir a sua concretização), para passar a ser "usufrua hoje, em prestações, o que nós garantimos ser o seu desejo".
É óbvio que a existência , por detrás deste tipo de consumo, de poderosas forças económicas, constitui a principal razão dos "novos moralismos" sociais: "o que foi bom ontem pode ser prejudicial e estigmatizante amanhã, ou vice-versa; nós é que sabemos o que é bom para si e o que você necessita".
Coisas tão naturais como a doença, o envelhecimento e a morte tornaram-se quase vergonhosas, sendo vividas, de preferência, às escondidas, recaindo sobre esses sujeitos a culpabilização e a censura social dos seus problemas.
Um dos exemplos mais gritantes, apesar de se conhecerem os problemas de saúde que os fumadores poderão vir a ter, é um dos avisos presentes nos pacotes de cigarros que diz: "Fumar mata". Por dedução lógica poderiamos chegar à conclusão (sem dúvida inaceitável) de que "Quem não fuma não morre".
A uma sociedade com características cada vez mais narcísicas, em que o "ter" é mais importante e mais poderoso que o "ser", junta-se um pseudo-moralismo normalizador em que os indivíduos deixaram de ser "seres únicos e insubstituíveis" para se tornarem em meros meios de que os governos se servem para os seus fins.
E o mais arrepiante é que, com o declínio e a desqualificação das ideologias como algo de ultrapassado, entendendo estas como posturas filosóficas para uma definição pessoal da vida, o que resta é o dinheiro.
Longe vão os tempos em que Marguerite Yourcenar, no seu livro "As Memórias de Adriano" escreveu: "... houve um tempo em que entre a morte de César e o nascimento de Cristo o que existia era o homem ...".
Desta vez a Comissão Europeia, penso que pressionada pelas reacções dos cidadãos, emendou a mão. Até quando?
Esta é mais uma razão para a existência e intensificação de movimentos cívicos.
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