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2006/11/11

Alegre avisa que o principa défice é o social

Transcrição da TSF online

Ouça aqui trechos do discurso de Manuel Alegre no Congresso do PS

Alegre avisa que o principal défice é o social

Manuel Alegre foi muito aplaudido, este sábado, pelos delegados ao congresso do PS. Com um discurso marcadamente à esquerda, o ex-candidato presidencial advertiu o Governo para as suas responsabilidades no combate ao défice social.

Numa intervenção que ultrapassou largamente os três minutos de tempo limite dados pela mesa do congresso a cada delegado, Manuel Alegre afirmou que não consegue fazer «o discurso da auto-satisfação enquanto houver dois milhões de pobres e meio milhão de desempregados no país».

Numa nota de solidariedade em relação ao executivo de José Sócrates, o vice-presidente da Assembleia da República salientou perante os congressistas que o resultado do actual Governo será também o seu resultado.

No entanto, Alegre sustentou que «os sacrifícios das finanças públicas só valem a pena se servirem para resolver o principal défice do país, que é o social».

Na sua intervenção, o ex-candidato presidencial começou por saudar José Sócrates pela sua recente reeleição para a liderança dos socialistas, mas também os subscritores (Helena Roseta, José Leitão e Fonseca Ferreira) de moções alternativas à do secretário-geral, «porque em política contam também as ideias, para além dos resultados».

Os maiores aplausos da plateia ouviram-se quando o vice-presidente da Assembleia da República repudiou a condenação à morte do ex-chefe de Estado do Iraque Saddam Hussein, quando saudou a recente vitória dos democratas nos Estados Unidos e quando apelou ao PS para que legisle no Parlamento a favor da despenalização do aborto, mesmo que o resultado do referendo não seja vinculativo.

Depois, Alegre evocou a obra política dos antigos ministros socialistas António Arnaut e Salgado Zenha, mas para deixar algumas críticas à actual actuação do Governo.

«Para a história do socialismo fica a criação do Serviço Nacional de Saúde por António Arnaut e não as taxas moderadoras nos internamentos. Para a história do socialismo fica a criação do sindicalismo livre por Francisco Salgado Zenha», declarou, antes de deixar um recado: «Socialismo e movimento sindical nasceram juntos e juntos têm de continuar, por maiores que sejam as dificuldades», defendeu.

Após uma crítica ao «capitalismo sem regras» que se instalou à escala global após a queda do muro de Berlim, Alegre considerou que o grande desafio ontológico que se coloca ao Governo socialista «é saber como resistir» a esta nova lógica neo-liberal e aos compromissos com Bruxelas «sem colocar em causa os direitos sociais».

«A reforma da administração pública tem de ser feita com e não contra os funcionários públicos. No estilo e no método de se fazer essa reforma, há muitas diferenças», avisou o dirigente socialista derrotado por José Sócrates no congresso do PS de 2004.

Na sua intervenção, respondeu também ao discurso feito por
Sócrates na véspera, lembrando o seu passado de resistência ao fascismo.

«Aprendi muito a ouvir a rua, quando participei em
manifestações corridas a cacete. Importa também que o Governo saiba dar um sentido e uma esperança aos cidadãos», declarou o ex-candidato a Presidente da República.

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