M!CporCoimbra

2008/05/11

Ana, 52 anos, um exemplo do empobrecimento da classe média baixa

(no PÚBLICO de hoje)
Ana Maria Rendeiro hesita perante a pergunta. "Se me considero pobre?". E, depois de uma pausa para reflectir, responde. "Sou pobre, embora não seja pobre de rua." Com 52 anos de uma vida moldada pelas deslocações diárias à Fosforeira Portuguesa, em Espinho, onde trabalhou durante 31 anos, viu-se desempregada há ano e meio. Para piorar o cenário, o marido foi vítima de dois enfartes que há um ano o trazem de baixa médica. Mais: o senhorio decidiu fazer obras em casa que implicam uma subida na renda dos actuais 45 euros para perto de 200.
"O fundo de desemprego vai acabar e a médica diz que o meu marido não pode voltar a trabalhar por causa do stress, mas o Estado continua a recusar-lhe a reforma por invalidez. Não sou pessoa de baixar os braços, mas está a ser muito difícil...", desespera, numa preocupação acentuada pelo aumento de custo de vida. "Os 587 euros de subsídio de desemprego mais os 257 euros de baixa médica do meu marido não chegam para as despesas. Não tenho vícios e a roupa é a mesma com que andava há seis anos. Agora, até quando vou tomar banho, penso na água que gasto", conta. Pior seria se tivesse filhos: "Aí estaria como alguns casais que conheço que já vão buscar o almoço ao banco alimentar", antecipa.
Para evitar esse cenário, Ana Maria manda currículos. E, quando não está a responder a anúncios ou a telefonar, está a oferecer-se para fazer limpezas. "É difícil ouvir tantos "nãos" na cara". E o pior é saber-se sem carta de condução e sem carro nem dinheiro para os conseguir. E achar que o diploma do 9.º ano de escolaridade que está prestes a conseguir de pouco ajudará. O pior é quando lhe respondem que é velha para o lugar. "De um lado dizem-me que sou velha para trabalhar. Do outro, que sou nova para a reforma. O que é que querem que eu faça da minha vida?".