Comunidade de Leitores da Almedina recebe o “alquimista” Manuel Alegre
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No dia 29 de Fevereiro de 2008 das 19:55 às 20:00 horas
propõe-se apagar todas as luzes para o nosso planeta poder 'respirar'.
Se a resposta for massiva, a poupança energética pode ser brutal.
( Luís Campos e Cunha, Professor Unversitário, no PÚBLICO de 08/02/08)
A liberdade não é grátis, mas devia sê-lo (e não estou falar de dinheiro). A crise das instituições democráticas e a classe política actual estão a pôr em risco a liberdade. O exercício da cidadania é cada vez mais um acto de coragem e não devia sê-lo.
As instituições democráticas, e, com elas, a democracia, estão a resvalar para a demagogia, dirigida por representantes sem ideias em lugar de lideres com horizontes. Com aqueles, algumas liberdades começam a estar em causa e até no futuro (espero que não), pondo em causa a própria liberdade. Tudo isto,,por absurdo, em nome da defesa da liberdade. A liberdade já hoje não é grátis e corremos o risco de vir a ser muito cara: só para ricos e heróis.
Os sistemas democráticos, tal qual os conhecemos, são fruto do pós-guerra e do combate aos totalitarismos, nazismo primeiro e comunismo depois. Com o fim da guerra fria e do comunismo, os pilares ideológicos da democracias ficaram sem contraponto e entraram em crise. Assim, e desde há duas décadas, as democracias elegem representantes e não líderes. Um líder é aquele que é capaz de decidir entre passar um fim de semana no Algarve ou na Serra da Estrela. Um representante não tem estratégia, calcula médias, tira bissectrizes entre a serra e o Algarve, e acaba por passar o fim de semana em Badajoz.
A crise das instituições que leva a esta estirpe de políticos (seja em Portugal, seja no Reino Unido ou na América) não seria demasiado preocupante não fora o arrastar com ela a liberdade, valor essencial da nossa existência.
A liberdade traduz-se, no dia a dia, em várias liberdades; de escrever; de falar; der nos organizarmos; de protestar; de apoiar; de votar; etc.. Uma dessas liberdades, por vezes esquecida, é a de estar errado, de falhar, de não ter razão e, mesmo assim, de poder opinar, falar e escrever.
Mas, no actual estado de coisas, aqui como lá fora, retira-se a responsabilidade moral de não fumar para não incomodar o próximo, para se passar à proibição da existência do ser imperfeito, ou seja, do fumador. Daí chega-se à raça superior, que hoje não vem dos genes, mas da proibição e do politicamente correcto consagrado na lei. A possibilidade de errar está proibida e, dentro em pouco, não frequentar um ginásio da moda será tão grave como fugir ao fisco.
E, especialmente entre nós, em que a ausência de liberdade ainda está muito presente, é muitas vezes esquecido que o exercício da liberdade não deve ser um acto heróico, mas uma banalidade. Não pode haver lugar a represálias pelo simples exercício da cidadania. O único limite à liberdade de cada um é, obviamente, o espaço de liberdade dos outros, que deve ser igual ao meu.
Para já, são pequenas liberdades que estão em causa. Os ataques às liberdades foram fruto da demagogia e do politicamente correcto, mas uma outra linha de ataque à liberdade é bem mais grave e, supostamente, em defesa da liberdade.
As escutas telefónicas (hipotéticas ou reais), as negociatas, os dossiers sobre pessoas, as câmaras de vigilância (legais ou não), minam a confiança e turvam o ambiente de liberdade .Paira permanentemente a suspeição sobre todo e qualquer cidadão. Ele sente isso e, como tal, não é livre,
Para se ter, hoje, a privacidade de há 15 anos só seria possível com um comportamento de psicopata, fugindo das auto-estradas, não usando multibancos, cartões de crédito ou contas bancárias, não entrando em supermercados ou centros comerciais ... Tal comportamento seria de tal modo custoso para o próprio e seria socialmente de tal modo estranho que certamente chamaria a atenção de algum bufo, o que justificaria algum inquérito, naturalmente. A privacidade acabou, dentro em pouco será o ataque à intimidade.
Mas não é só cá, por Lisboa. Em Londres, este fim-de-semana, havia grande celeuma(e bem) porque um membro do parlamento (MP) britânico tinha sido escutado pelos serviços de informações antiterroristas. Esse MP é, por caso, trabalhista e muçulmano.
O Presidente Bush legalizou a tortura e passaram a fazer-se interrogatórios utilizando métodos atribuídos à PIDE, para defender a liberdade e o Estado de Direito. Tudo legal, naturalmente.
E tudo isto em defesa da liberdade. Se tal não for atalhado e a corrida para o abismo não parar, os terroristas podem reformar-se, pois os democratas entretanto fizeram o trabalho por eles. Cada vez mais, os políticos-representantes, com o pragmatismo elevado a ideologia, põem em causa a política e os princípios. A liberdade já não é grátis, mas devia sê-lo, e pode vir a ter um preço que pode ser a própria liberdade.
Na próxima 2ª feira, 11 de Fevereiro, haverá um JANTAR/tertúlia, que visa assinalar a vitória do SIM no referendo realizado há um ano.
Esta iniciativa será no Salão Brasil (Largo do Poço, na baixa de Coimbra), a partir das 20h.
Além do jantar propriamente dito, haverá uma tertúlia com a alocução dalgumas pessoas que participaram na campanha do SIM em 2007, mostra de vídeos e uma intervenção musical.
nota: inscreve-te por mail ou sms através dos telemoveis 919 855 010 (Magda) ou 964167 025 (Tozé) até ao dia 9/2/08.
Organização: cidadãs e cidadãos participantes na campanha do SIM em 2007
O número que acaba de sair do Anuário das Relações Internacionais – Janus 2008 (distribuído com o PÚBLICO) tem como temática de fundo a questão das relações laborais, dando à estampa um conjunto de leituras realizadas por diversos especialistas das ciências sociais e económicas, que discutem e analisam as mudanças no trabalho no actual contexto de globalização. Eis algumas pistas dos temas tratados: qual lugar do trabalho no mundo instável em que vivemos hoje? Que impactos sociais poderemos esperar das actuais tendências de flexibilidade, mobilidade e precariedade no emprego? O trabalho está a humanizar-se ou a desumanizar-se cada vez mais? É ele gerador de maiores desigualdades ou contribui para reduzi-las? Que futuro para o sindicalismo?
Desde o tempo da escravatura e ao longo da Idade Média, trabalhar era sinal de desclassificação social e algo indigno de cidadãos. Chegou a colocar-se a pergunta “porque não exterminar-se o trabalho”? (Thomas More) Antes, o trabalho foi até entendido como punição “divina”, porém no século XIX passou a ser visto como factor decisivo de desenvolvimento em prol da humanidade. Sobretudo após a revolução industrial, o trabalho tornou-se um campo de intensas lutas sociais e políticas, pois, apesar dos sinais de progresso, a máquina a vapor e o tear mecânico tornaram clara a profunda tensão entre trabalho e técnica. As conquistas da era moderna revelaram também novas injustiças sociais, com o movimento operário a ganhar protagonismo, evoluindo das primeiras revoltas contra o maquinismo para o estatuto de principal “sujeito” histórico da sociedade industrial.
Ontem como hoje a dialéctica do trabalho exprime profundos contrastes. De facto, a “questão social” e as lutas operária estiveram um enorme alcance transformador, abrindo caminho ao direito do trabalho e ao modelo social europeu, que culminou nos “gloriosos anos trinta” e no Estado providência. Todavia, com a globalização e a nova revolução tecnológica, a força de trabalho não só se emancipou como continua a reforçar os “exércitos de reserva”, hoje em expansão em todos os continentes. Na Europa e no mundo, o discurso neoliberal não esconde o novo cinismo social, que visa – a pretexto da despolitização – substituir a legislação laboral pela “civilista”, supostamente defensora do indivíduo (e da criação de mais emprego), mas na verdade submetida à lógica do mercantilismo global.
Em vez de nos aproximarmos do “fim do trabalho”, o que aconteceu foi que este deixou de ser o referente estável de status ou o principal símbolo identitário de cada um. Tornou-se mais volátil, escasso e difícil de manter como principal esfera de realização pessoal. Mas permanece um bem primordial. Um bem que, ao lado da família e comunidade, é decisivo para contrariar a insegurança, a desfiliação, o risco (…)
As novas competências técnicas – da sociedade de informação – criaram uma minoria de profissionais altamente qualificados, para quem a mobilidade e globalização significou melhores oportunidades (…). Mas, por outro lado, os efeitos predatórios do mercantilismo desregulado aceleram as metamorfoses do trabalho empurrando milhões de trabalhadores para novos despotismos e servilismos, criando e recriando novas formas de desigualdade social, discriminação e exclusão. O tema principal da Janus 2008 contribuirá, assim se espera, para recolocar os temas laborais no centro da reflexão e da análise social, numa altura em que se adivinham novas agitações neste domínio e em que se desenham novas investidas na instrumentalização do movimento sindical português. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra