M!CporCoimbra

2008/04/25

VIVA O 25 DE ABRIL

" Amizade, utopia, solidariedade, liberdade, justiça social.
O sonho da emancipação não pode morrer.
Viva a Democracia.
Viva o 25 de Abril. "

Elísio Estanque

2008/04/21

22 de Abril - Dia do Planeta Terra

Abra este endereço e veja

www.youtube.com/watch?v=5g8cmWZOX8O

ECO-92 ( até parece que foi hoje ... )

Um milhão de trabalhadores estão em situação precária

Nuno Miguel Pereira com Lusa | npereira@destak.pt

Aos 872 mil funcionários sem vínculo juntam-se cerca de 100 mil que trabalham ilegal ou clandestinamente. Ou seja, um quinto da população está em situação precária, com metade dos jovens até aos 25 anos sem contrato de trabalho, tal como 52% das mulheres. Os falsos recibos verdes são outro flagelo.

A luta contra a precariedade no emprego foi assumido como prioritária pelo ministro do Trabalho e Solidariedade Social, Vieira da Silva, mas a verdade é que, nesta matéria, muito está ainda por fazer.

Os números revelam que cerca de um quinto da população activa portuguesa não tem um vínculo laboral permanente. São cerca de 872 mil pessoas, às quais se juntam cerca de 100 mil trabalhadores que desempenham actividades de forma ilegal ou clandestina.

Jovens precários

É nos jovens que a precariedade laboral mais se faz sentir. De acordo com os dados oficiais, cerca de metade dos jovens até aos 25 anos não têm contrato de trabalho.

Uma situação que se agrava nas mulheres, uma vez que 52,1% trabalham sem vínculo. O cenário é ligeiramente mais animador na faixa entre os 25 e os 29 anos, uma vez que a precariedade afecta 35,9% dos trabalhadores.

Os falsos recibos verdes são outro dos flagelos, o que levou à criação da associação FERVE (Fartos d'Estes Recibos Verdes). Segundo Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP, são cerca de 100 mil os trabalhadores que, embora registados como profissionais independentes, são «falsos trabalhadores independentes».

A administração pública, a defesa e a segurança social são as actividades laborais que registam uma maior percentagem de trabalhadores precários.

2008/04/16

Apoiantes de Manuel Alegre organizam debates sobre os novos rumos para a esquerda com linha oficial do PS

16.04.2008, São José Almeida no PÚBLICO de hoje
"Nova esquerda e desemprego: que políticas?" é o tema do primeiro debate organizado pela Corrente de Opinião Socialista - PS, que se realiza sábado à tarde, no Porto. Esta estreia de iniciativas da corrente interna dos socialistas, que foi formada a 9 de Fevereiro pelos apoiantes de Manuel Alegre, terá como intervenientes convidados o deputado Maximiano Martins e Nuno Teles e será moderada pelo economista Jorge Bateria.
Este ciclo de três debates tem como título conjunto "Novos Rumos para a Esquerda" e tem a preocupação de pôr frente a frente representantes da linha oficial de direcção do PS e representantes do que são os sectores críticos à orientação do partido e do Governo. "É uma tentativa de fazer debates no PS de forma aberta e abrangente, debater só com pessoas que pensam o mesmo não dá", defendeu Manuel Alegre ao PÚBLICO.
O segundo debate conta com a presença de Alegre e com as intervenções do sociólogo Pedro Adão e Silva, professor do ISCTE, e do cientista político André Freire, também professor do ISCTE e investigador do CIES. A moderação será de Eduardo Rodrigues. Este segundo debate tem como tema "Nova esquerda e desigualdades: que políticas?" e realiza-se no Porto a 31 de Maio.
O último debate deste ciclo decorre a 21 de Junho também no Porto e tem como tema "Nova esquerda e educação: que políticas?". Moderado por Jorge Martins, este debate conta com as intervenções da deputada Manuela de Melo e da ex-secretária de Estado Ana Benavente.

2008/04/13

Entendimento entre sindicatos e ME alivia tensão no sector

Isabel Leiria, no PÚBLICO de hoje
Ministra da Educação aceitou que a avaliação este ano se baseie apenas em quatro parâmetros e de forma igual em todas as escolas do país

O facto de 100 mil professores terem saído à rua no dia 8 de Março parece afinal ter sido relevante, ao contrário do que foi sugerido na altura pela ministra da Educação. Nunca em três anos de governação Maria de Lurdes Rodrigues se tinha reunido tantas horas com os sindicatos como aconteceu nesta última semana. E nunca nas centenas de horas de negociação - entre secretários de Estado e docentes - sobre os mais diversos diplomas a tutela tinha cedido tanto, permitindo chegar-se ontem, pouco faltava para as 2h00, a um entendimento.
A avaliação não será pura e simplesmente suspensa este ano, como exigiam inicialmente os sindicatos, mas será feita de uma forma minimalista - com base em apenas quatro parâmetros - e de forma igual em todas as escolas do país para os cerca de sete mil professores (a esmagadora maioria contratados) que precisam de ter uma classificação este ano lectivo. Além disso, as penalizações previstas para quem tenha nota de Insuficiente ou Regular desaparecem neste primeiro ciclo ou terão de ser confirmadas numa segunda avaliação para que produzam efeitos.
Ou seja, aquele que era um dos pontos de honra para a ministra acabou por cair, em nome de um entendimento que, na expressão da plataforma sindical, permite "salvar" o 3.º período. Maria de Lurdes Rodrigues chegou a afirmar que seria uma "política errada" não permitir que as escolas avançassem na avaliação de desempenho dos docentes a um ritmo diferente, consoante as suas capacidades, e optar-se por nivelar por baixo.
Já os sindicatos entendiam que esta era a única alternativa admissível, sob pena de modelos diferenciados de escola para escola poderem gerar enormes injustiças entre docentes.
A verdade é que a pressão sobre o ME para chegar a um acordo era grande. Basta ver que a reunião de anteontem, equipa ministerial e sindicatos estiveram reunidos na sede do Conselho Nacional da Educação, em Lisboa, quase oito horas, numa total de 15 em três dias. Isto quando ninguém parecia disposto a dar o braço a torcer na questão que desde o início mais dividia: o modelo de avaliação. O encontro tinha sido solicitado pelos sindicatos ao primeiro-ministro e este delegou a reunião na ministra.
No primeiro intervalo, vinte minutos depois do início da reunião, o acordo parecia mesmo destinado a falhar. De rosto fechado, vários dirigentes sindicais saíam da sala e vaticinavam que as conversações não iam durar mais de dez minutos, dado a suposta intransigência do ME em admitir a solução proposta pelos sindicatos. Mário Nogueira, dirigente da Fenprof, preparava-se para pôr a gravata preta que, durante meses, foi o sinal de "luto" dos professores pela aprovação do Estatuto da Carreira Docente e outras políticas.
"Grande vitória"
Só que a partir daí sucederam-se mais três propostas do ME, horas de discussão, intervalos para reflexão, com dirigentes e governantes a entrar e sair de diferentes salas do CNE e muitos telefonemas feitos pelos secretários de Estado e ministra, num frenesim que há muito não se via. Já passava da uma da manhã e as chávenas de café e os biscoitos que durante este dias foram matando a fome a quem esteve presente na maratona negocial voltavam a ser postos na mesa.
Já perto das duas, ouviu-se alguém desabafar: "Finalmente!". Mário Nogueira e João Dias da Silva, dirigente da FNE, saíam da sala com sorrisos de orelha a orelha, contrastando com o rosto visivelmente cansado de Maria de Lurdes Rodrigues.
Com uma mão-cheia de reivindicações atendidas, Mário Nogueira falava numa "grande vitória para os professores" e na prova de que "vale mesmo a pena lutar", enaltecendo a união dos sindicatos e a "grande mobilização dos docentes." E é por isso que, na próxima terça-feira, no chamado Dia D, a reflexão das escolas já não servirá para definir novas acções de luta, mas para esclarecer e ratificar, se for essa a vontade dos professores, o memorando de entendimento entre o ME e os sindicatos, que deverá ser formalmente assinado no dia 17.
"Estamos bastante contentes com o trabalho que realizámos nestes dias. A partir de pontos tão distantes, conseguimos realizar este entendimento, sem que fique comprometido o processo de avaliação", comentou, por seu turno, a ministra, reafirmando que todos ganham com este acordo. "A avaliação far-se-á sem interrupções, nem suspensões, nem adiamentos e para todos os docentes", anunciava mais tarde a tutela em comunicado.

2008/04/08

Choque de titãs deixa deputados hesitantes face ao Acordo Ortográfico

08.04.2008 - Adelino Gomes, PÚBLICO.pt

Já se aproximavam as 18 horas quando a deputada Teresa Portugal (PS) abriu a última parte da sessão - aquela em que se iriam conhecer as posições dos representantes partidários acerca do acordo ortográfico, o tema que mobilizava desde as 10 e meia da manhã catedráticos, linguistas, editores, membros de institutos e associações da língua portuguesa, reunidos na sala do Senado da Assembleia da República, em Lisboa.

A deputada começou por historiar a "atribulada história dos múltiplos acertos e desacertos da ortografia" da língua portuguesa. Mas em breve não hesitaria em confessar-se dividida "perante uma argumentação igualmente convincente" que ouvira, ao início da tarde, quando Vasco Graça Moura e Carlos Reis esgrimiram argumentos contra e a favor do acordo ortográfico ratificado em 1990, mas que agora voltou uma vez mais ao Parlamento, como proposta de resolução apresentada pelo Governo, para resolver um imbróglio jurídico, facilitando a entrada em vigor do acordo de 1990 desde que pelo menos três dos oito países contratantes depositem os respectivos instrumentos de ratificação.

As frases-chave dos dois deputados que se lhe seguiram, do PSD e do CDS-PP, alinharam pelo mesmo tom: o PSD "manifesta abertura de espírito para valorizar todos os argumentos aqui ouvidos" (Ana Zita Gomes); "ficámos a conhecer todos os pontos de vista, nalguns casos, felizmente, antagónicos" (Pedro Mota Soares, do CDS-PP).

As múltiplas interrogações com que o deputado do PCP, João Oliveira, recheou a sua intervenção ("Será este acordo um factor de cooperação? De que serve um acordo ortográfico sem uma política da língua portuguesa no mundo?") indiciavam uma mesma reserva em desvendar o sentido de voto final, apenas revelado, na prática, pelo representante do Bloco de Esquerda (BE). Este, ficou claro, será de apoio ao acordo. Disse Luís Fazenda: "Respeitamos objecções levantadas por pessoas com competência técnica [referia-se aos linguistas que se manifestam contra aspectos do acordo]. Contudo, o que é importante é o sinal político e esse vai muito para além deste acordo de aproximação ortográfica e é o seguinte: no conjunto de Estados que se exprimem em português há uma cogestão da língua."

Graça Moura vs Carlos Reis

O carácter tão ostensivamente prudencial como os deputados se pronunciaram (alguns insistindo que falavam a título meramente pessoal) terá talvez a ver com o brilhantismo dos dois convidados especiais da audição parlamentar - Vasco Graça Moura e o catedrático de Coimbra e reitor da Universidade Aberta, Carlos Reis.

Eurodeputado do PSD, escritor ("esteta da escrita", chamou-lhe Teresa Portugal), Graça Moura não poupou palavras no ataque ao documento. A começar no título da intervenção - "Acordo ortográfico: a perspectiva do desastre". E a continuar nas intenções ocultas que nele descortina - "decerto à revelia das melhores intenções dos negociadores portugueses, o Acordo (...) serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo", em especial de Portugal, e representa "uma lesão inaceitável de um capital simbólico acumulado e de projecção planetária".

Vasco Graça Moura distribuiu pelo documento críticas de carácter jurídico (para o Acordo vigorar na ordem interna portuguesa não lhe bastam a aprovação parlamentar e a ratificação do Presidente da República - necessita de "ter assegurada a sua vigência no ordenamento internacional", algo que está longe de acontecer pois foi ratificado até agora por três dos oito Estados de língua portuguesa); de carácter processual (o Governo "não consultou nenhuma Universidade, nem o Conselho de Reitores, nem a Associação Portuguesa de Escritores, nem a Sociedade de Língua Portuguesa") e, sobretudo, de carácter técnico.

Os defensores do Acordo, disse, não deram resposta até hoje "a nenhuma das críticas científicas" formuladas por linguistas. "O único objectivo real de toda a negociação do Acordo", acusa, foi o de suprimir as consoantes mudas ou não articuladas "c" e "p", o que levará a "homogeneizar integralmente a grafia portuguesa com a brasileira (...) desfigurando a escrita, a pronúncia e a língua que são as nossas".

Carlos Reis avançou logo com uma "declaração de desinteresses" seguida de outra de "interesses: "Não tenho dependências económicas nem cumplicidades políticas; a minha única preocupação é com a Língua Portuguesa como idioma dividido por oito países."

O que está em causa neste acordo ortográfico, disse, "é aproximar o modo como escrevemos do modo como falamos (...). Há alguma ofensa cultural se passo a escrever "elétrico" em vez de "eléctrico"?", perguntou, numa rajada de interrogações em que quis saber se Portugal se deve manter agarrado a uma "concepção conservadora da ortografia"; se serão os interesses das editoras "absolutamente determinantes para condicionarem decisões de amplo alcance a alargado espectro cultural"; se "podem alguns portugueses persistir em encarar o Brasil como um parceiro menor neste processo ou até como um inimigo"; e se Portugal tem o direito de colocar obstáculos, "as mais das vezes artificiais ou fundados em interesses económicos, a um entendimento que não afecta identidades nem legítimas singularidades linguísticas".

2008/04/07

«Quem dera que o PS fosse social-democrata», diz Manuel Alegre

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Entrevista ao SOL
[Margarida Marante, SOL, 06-04-2008]

“Quando há maioria absoluta, tem de haver muito mais atenção aos valores da democracia, aos contrapoderes” afirmou Manuel Alegre em entrevista a Margarida Marante para o jornal Sol. O deputado considerou que “há uma certa tendência para confundir maioria absoluta com poder absoluto” e esclareceu em que medida não se revê no actual PS: “Sou de outra história, de outra memória. Do primado da política, do primado da ideologia. Hoje é a tecnocracia que predomina, o pragmatismo, a imagem.”

Em entrevista a Margarida Marante, o histórico dirigente do PS afirma que se revê mal neste partido simplesmente porque é ‘socialista’ e o PS deixou de o ser. Adianta, no entanto, que não tenciona fazer uma cisão: «Se tivesse de a fazer, já tinha feito». Porém, acrescenta: «Mas na vida nunca se sabe»

Por que não se revê neste PS?
Como diria o meu amigo Piteira Santos, porque sou socialista ou porque me considero socialista. Quando digo que não me revejo no PS é uma expressão muito carregada. Há coisas em que me revejo e outras em que não.

Não se revê em quê?
Sou de outra geração. Sou de outra história, de outra memória. Do primado da política, do primado da ideologia. Hoje é a tecnocracia que predomina, o pragmatismo, a imagem. Isto é feito por ciclos e acho que este ciclo também vai passar. Claro que me agradam algumas medidas, como a interrupção voluntária da gravidez, a Lei da Paridade, a procriação medicamente assistida, a proposta de Lei do Divórcio, e reconheço que era necessário reduzir o défice para garantir o Estado Social.

E na Educação?
Não é possível fazer reformas sem os professores ou contra os professores. A maneira como se encarou uma manifestação de 100 mil professores não tem de facto que ver com a minha formação política. A democracia não é só o voto, também é a participação das pessoas. É preciso ver e pensar. E o diálogo também é uma virtude da democracia.

Por que não constituiu uma corrente dentro do partido?
Eu constituí. Fiz uma reunião há pouco tempo, com gente de todos os distritos, incluindo Madeira e Açores, e criou-se uma corrente de opinião que se chama Opinião Socialista. Teve como ponto de partida aquele núcleo de socialistas que, em cada distrito, me apoiou na candidatura presidencial. Agora, pode abrir a outros militantes e simpatizantes e outras pessoas fora do partido que queiram pensar os problemas da democracia, do socialismo, da esquerda em geral.

É o primeiro a dizer que há uma nomenclatura neste momento no PS e que é muito difícil mudar um partido por dentro…
Em qualquer partido é muito difícil. Mas acho que a vida também ensina que a opinião pública tem importância. E se os partidos não aprendem com a vida, a vida, depois, também muda os partidos. E houve várias experiências: houve a minha candidatura, fui um candidato contra o candidato oficial do partido, e obtive um milhão e tal de votos que perfazem 21%, enquanto o candidato oficial do partido teve 14,1%. E depois houve as eleições intercalares de Lisboa em que duas candidaturas independentes se bateram com os partidos. Neste momento há muitos movimentos espontâneos de cidadãos.

O PS é hoje um partido social-democrata…
Isso é que era bom. Quem dera. A social-democracia é a matriz comum do socialismo e até do comunismo. O que eu duvido muito é que algumas medidas que estão ou estavam a ser aplicadas fossem sociais-democratas. O que acontece hoje é que, em consequência da globalização e das políticas do Fundo Monetário Internacional veiculadas pela OCDE, e adoptadas pela UE, vigoram soluções neoliberais, mesmo dentro da Europa. E, a pretexto da sustentabilidade dos serviços sociais, têm-se adoptado medidas que põem em causa a natureza dos serviços sociais.

Os líderes socialistas da Europa fazem exactamente o mesmo…
Pois, mas eu não estou de acordo. E grande parte de eleitorado também não. Por isso têm tido alguns dissabores.

O que é a Esquerda para si hoje?
A Esquerda é a busca da justiça, de mais igualdade, de qualidade da democracia. Eu acho que os direitos políticos são inseparáveis dos direitos sociais. Se não tiver trabalho, se não tiver pão, se tiver problemas para empregar os filhos ou uma pessoa no desemprego, não tem a mesma liberdade dos que estão bem.

Já pensou abrir uma cisão no PS?
Eu nunca gosto de dizer coisas definitivas, mas, se tivesse de fazer cisões, já as tinha feito noutras circunstâncias. Mas na vida nunca se sabe o que pode acontecer. Na perspectiva política, a tendência vira-se mais para uma lenta retirada do que propriamente para uma cisão.

Pensa já numa reforma política?
Está na altura de ter direito a isso. Não gosto nem de dizer que sim, nem de dizer que não, porque isso é sempre muito problemático em política. Dizer que não e depois voltar atrás…

Mas a sua vontade é a reforma, é o descanso?
Vou escrevendo livros, mas agora tenho muitos convites para ir ao estrangeiro, tenho um convite para ir ao Festival Internacional ( de Poesia ) de Berlim e para o Brasil. Portanto, gostava de usufruir mais desses convites.

Acha que há grandes diferenças actualmente entre o PS e o PSD?
O PSD está numa situação complicada, como todos os partidos na oposição, quando há uma maioria absoluta. Mas, se a alternância funciona, não subestimaria o PSD nem o líder do PSD. Os descontentamentos, a certa altura, viram-se para qualquer lado, por exemplo para a abstenção, porque os partidos deixam de corresponder às suas bases eleitorais e sociais. Ninguém ia dizer que eu teria aquele resultado que tive nas eleições. Estraguei a festa.

Qual a sua opinião sobre José Sócrates?
É um homem da sua geração. Tenho uma relação pessoal com ele, ao contrário do que as pessoas julgam. Agora, não temos as mesmas opiniões e, quando foi preciso confrontá-lo, confrontei-o, como foi o caso da co-incineração e das presidenciais. Eu digo a José Sócrates em privado o que digo em público. E ele também me diz. Quando as divergências são claramente assumidas, depois as relações são mais fáceis.

Acha que faria bem ao PS ter duas maiorias absolutas seguidas?
Não sou contra maiorias absolutas, porque isso faz parte da democracia, mas não tem dado grande resultado em Portugal. Talvez ainda não haja suficiente maturidade cívica. Quando há maioria absoluta, tem de haver muito mais atenção aos valores da democracia, aos contrapoderes. E há uma certa tendência para confundir maioria absoluta com poder absoluto. Na minha geração, nós, apesar de associados ao PS, falávamos não só do exercício do poder mas também de criar contrapoderes.

2008/04/05

O Sonho não era dele

Quarenta anos da morte de Martin Luther King
[Paulo Moura, Público.pt, 04-04-2008]

Quarenta anos depois da morte de Martin Luther King, não é fácil, hoje, perceber as razões do fascínio que exerceu sobre a América e o mundo. Só pode haver uma explicação: o seu poder não estava nele, mas em tudo o que o rodeava. É difícil perceber porque o sonho, que estava vivo, foi morrendo, primeiro com Kennedy, depois com o próprio Luther King. Mas era um sonho cheio de futuro.

Tudo começou num autocarro. Não se sabe o que passou pela cabeça da senhora Rosa Parks. Era uma costureira negra, de 42 anos, que vivia em Mongomery, Alabama. Não se sabe o que lhe passou pela cabeça naquela quinta-feira, dia 1 de Dezembro de 1955, que resolveu sentar-se na primeira fila do autocarro. O condutor, claro está, aproximou-se e disse-lhe para ir para uma das filas do fundo, porque aquele lugar estava reservado a brancos. Mas a senhora Parks fez orelhas moucas. Não se mexeu. Foi presa. O julgamento foi marcado para a segunda-feira seguinte. A senhora Parks não fazia ideia de onde se estava a meter.

Por incrível coincidência, ou talvez mera casualidade, o reverendo Martin Luther King Jr tinha sido nomeado como pastor da Igreja Baptista da rua Dexter, em Montgomery. Ele, que tinha acabado o curso do seminário em Crozer, na Pensilvânia, fora um dia a Montgomery fazer um sermão, a pedido do pai, que também era pastor. Gostaram tanto que o convidaram para ficar lá. Foi o seu primeiro emprego.
Martin era um jovem bastante enfadonho. Só pensava em estudar e levava tudo demasiado a sério. Até no amor era circunspecto: foi uma amiga que lhe sugeriu uma determinada rapariga. Deu-lhe o número de telefone dela e Martin ligou a convidá-la para almoçar. Após uma hora de conversa, o jovem reverendo disse: "Coretta, qualquer dia temos de nos casar". Meses depois casaram. Seria a única mulher da vida de Martin Luther King. Na sua autobiografia foram publicadas as suas primeiras cartas de amor. São patéticas, de tão prosaicas. Uma, de 18 de Julho de 1952, começa assim: "Querida, tenho muitas saudades tuas. Tantas, que não imaginas". Mas logo a seguir continua: "Desculpa, minha querida, não era minha intenção deixar-me arrastar por estes devaneios poéticos e românticos".
Prossegue com um relato dos livros que andava a ler e das bases da teoria económica que estava a edificar. Despede-se, com paixão: "É esta, no meu entender, a forma mais sensata e ética de operar a transformação social. Eternamente teu, Martin".

Na sexta-feira, 2 de Dezembro de 1955, um bagajeiro dos caminhos de ferro de Montgomery chamado E.D. Nixon telefonou a Martin. Contou-lhe o que se passara na véspera com a senhora Rosa Parks e acrescentou, com a voz a tremer: "Já aguentamos este tipo de situações há demasiado tempo. Acho que está na altura de boicotar os autocarros".
O reverendo era cumpridor da lei. Mas era também um homem justo. Segundo a legislação da segregação racial, os negros tinham de sentar-se nas traseiras dos autocarros. Se não houvesse vagas, teriam de ir de pé, mesmo que os lugares da frente fossem todos vazios. Era habitual os condutores tratarem os passageiros negros como "macacos pretos" e "vacas pretas".
Naquela noite, Martin não dormiu. "O método do boicote não será intrinsecamente anticristão?", ruminava ele. Mas acabou por concordar. Na manhã de segunda-feira, dia do julgamento da senhora Parks, a população negra de Montgomery, mobilizada pelos pastores e os activistas, decidiu não usar os autocarros. Foram a pé, ou de táxi, para o trabalho. A adesão ao boicote não foi de 60 por cento, como as previsões mais optimistas, mas de 100 por cento. E durou várias dias, até que as autoridades municipais decidiram negociar. O presidente da Câmara voltou-se para a delegação de negros e perguntou:

"Quem é o porta-voz?"

Não tinham combinado nada, mas todos os olhos se voltaram para Martin. O autarca disse: "Muito bem. Aproxime-se e diga o que tem a dizer".
O movimento pelos direitos cívicos começava, e Martin Luther King estava irremediavelmente ligado a ele. Não porque o tivesse desejado, mas porque não lhe pôde fugir. Menos de um ano depois, o Supremo Tribunal dos EUA declarava inconstitucionais as leis sobre a segregação nos autocarros, mas isso era só o início.
Cada conquista levaria a mais lutas e a mais resistência das forças segregacionistas. E isso levaria a uma mobilização cada vez maior, não só dos negros, mas também dos sectores mais progressistas da população branca.
Após o boicote aos autocarros, viria o movimento dos sit-ins, em que grupos de negros, principalmente jovens estudantes, entravam nas cafetarias e se sentavam. As cafetarias onde, segundo as leis da segração, não poderiam entrar. No ano de 1960, fizeram-se sit-ins por todo o Sul dos EUA, agora com a adesão, também, dos estudantes brancos. Em 1961 começa, em Albany o movimento dos "Freedom Riders": grupos de negros, em toda a espécie de veículos, ocupavam as estradas. E também os wade-ins (ocupação de piscinas e praias), os kneel-ins (ocupação de Igrejas), os jail-ins (ocupação das prisões).
Este último tipo de ocupação acontecia quando a polícia prendia tantos manifestantes nas outras ocupações, que as prisões ficavam cheias. A partir de certa altura, não era possível prender mais ninguém, porque não havia mais celas. O próprio Luther King foi preso muitas vezes, e depois libertado. Uma delas, na prisão de Birmingham, em 1963, por intervenção directa do Presidente, John Kennedy.

A marcha de Washington

Em Agosto desse mesmo ano, o movimento conseguiu uma mobilização sem precedentes numa grande marcha sobre Washington. Cerca de 250 mil pessoas reuniram-se em frente do monumento a Abraham Lincoln. Foi aí que Martin Luther King proferiu o célebre discurso. "I have a dream", disse ele. Mas isso não estava escrito. Saiu-lhe da boca como se uma força superior se tivesse apoderado dele. "Eu tenho um sonho", gritou ele, já sem olhar para o papel.
A marcha teve uma cobertura mediática inusitada. Muitos brancos americanos nunca tinham visto tantos negros juntos numa acção concertada e séria. E, no entanto, os media estavam presentes em massa porque pensaram que, com tantos negros juntos, haveria com certeza distúrbios e violência. King previu e jogou com tudo isto. Essa capacidade de chegar à opinião pública foi um dos segredos do seu êxito e, com ele, do êxito do movimento dos direitos civis. Outro segredo foi a sua formação religiosa e a competência oratória aprendida com os pastores das igrejas evangélicas negras. Outro segredo ainda foi a sua sintonia com o espírito da época.
Martin Luther King não tinha ideias revolucionárias. Ele acreditava na Constituição americana. Para ele, o fim da segregação racial e a luta pelos direitos civis eram a realização do próprio sonho americano. Não de um outro sonho qualquer. Ou do seu próprio sonho.

"A realidade da segregação, como a da escravatura, sempre teve de desafiar os ideais da democracia e do cristianismo. De facto, segregação e discriminação são paradoxos estranhos numa nação alicerçada no princípio de que todos os homens foram criados iguais", escreveu King.
Na sequência desta convicção - e esse é o mais importante segredo - King concluiu que toda a luta deveria ser pacífica. Através da experiência, mas também de muito estudo teórico, criou um método invencível de combate. Foi uma mistura do ensaio Sobre a Desobediência Civil de Henry David Thoreau, com a teses sobre a responsabilidade social do Cristianismo, de Walter Raushenbusch. A seguir, influenciaram-no a obra de Marx e a experiência de Ghandi, o Super-homem de Nietzsche e a ética social de Reinhold Niebuhr. No fim, estava completa e pronta a usar uma filosofia de combate não-violento que ia de encontro ao espírito de mudança e de pacifismo que se espalhava pelo mundo nos anos 60.

Quando ganhou o Nobel da Paz, em 1964, King interpretou-o como um "reconhecimento de que a via da não-violência, a via do negro americano, era a resposta à questão política e moral mais premente do [nosso] tempo: a necessidade que o homem tem de vencer a opressão e a violência sem recorrer à violência e à opressão".
Este era o sonho que a América sonhava e, com ela, o mundo. Martin Luther King limitou-se a plagiar o sonho.
No discurso do Verão de 63, em Washington, era como se alguém estivesse a falar pela sua boca. Ele tinha escrito um belo texto e começou a lê-lo. "Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco naquela que irá ficar na História da nossa nação como a maior manifestação pela liberdade", começou ele. "Chegou a hora de cumprir as promessas da democracia", leu ainda. Mas depois ergueu os olhos do papel e nunca mais os baixou. "Eu tenho um sonho", começou ele a improvisar. "Um sonho que mergulha profundamente as suas raízes no sonho americano". E entrou em puro transe. Não era ele que discursava. O sonho não era dele. Como um medium que fecha os olhos e fala com vozes do passado, ele fitava a multidão e falava com a voz do futuro.