M!CporCoimbra

2007/05/31

Culturas de Greve em Portugal e no Brasil


Elísio Estanque
Centro de Estudos Sociais da FEUC;
Professor convidado da USP – São Paulo

Portugal está em greve e o mesmo acontece no sector universitário paulista. A greve é, disseram uns sociólogos citando Clausewitz, “a continuação da negociação por outros meios”. Acho que esta é uma formulação adequada, sobretudo quando as greves ocorrem num regime democrático, no qual é suposto uma permanente negociação de interesses entre os diferentes actores do conflito social e político. É de conflito que se trata. Mas tal como o conflito não acaba com o fim da greve, a negociação não pode acabar com o seu início. A negociação continua por outros meios, na medida em que o conflito aberto trata sobretudo de mostrar o peso relativo de cada uma das partes nele envolvidas, procurando alterar a correlação de forças. E as paralisações do trabalho mais as manifestações de rua têm um custo não só económico mas também político que pode ser demasiado elevado.

Em Portugal, desde os anos 70 que as greves se foram tornando impopulares. Quer no discurso público quer no imaginário popular foi-se instalando a ideia de que só fazem greve os que “não gostam de trabalhar”, os que só pensam nos seus interesses, supostamente indiferentes aos “interesses do país”. Passámos por um período em que a cultura de greve se inscrevia numa expectativa colectiva de que a greve era parte de um processo mais vasto, era uma etapa da consciencialização, visando a sociedade socialista, que estaria no final do caminho. Só que, entretanto, foi a utopia que se perdeu no caminho e a greve passou a limitar-se à defesa de regalias materiais. Porém, quem tinha mais passou a estar menos disposto a aderir, e as greves não só passaram a mobilizar menos como se foram limitando aos sectores mais protegidos.

A cultura de greve deixou de ser emancipatória para se tornar corporativa. Com tudo isto chegámos a um ponto em que se bateu no fundo. Ou seja, os sectores estáveis, a que alguns chamaram “privilegiados”, deixaram de o ser e estão todos a tornar-se precários. Este é talvez o ponto em que, outra vez, os que antes pensavam só em si próprios percebem a importância da aliança com os restantes, e os mais precarizados começam a perceber que a cultura do “deixem-nos trabalhar”, o sacrifício necessário para garantir o mínimo de bem-estar ou mesmo para “salvar o país da crise”, não passou de um imenso logro. O benefício da dúvida que muitos deram a Sócrates há dois anos não valeu a pena.

Também no Brasil o rastilho das greves e do protesto parece ter pegado. No início parecia uma brincadeira de crianças. Há quase um mês que os estudantes ocupam a Reitoria da USP em protesto pela quebra abrupta da negociação com a reitora e em luta contra um conjunto de decretos do governo de José Serra, que visam reduzir a autonomia da universidade e talvez empurrar a instituição – a melhor do país – para um processo de privatização a prazo. Pouco depois, os funcionários declararam greve, seguindo-se-lhes os professores. Piquetes, paralisações e até invasões já se estenderam a várias instituições e têm ocorrido manifestações noutras regiões do país. Em São Paulo também os funcionários das Universidades Federais entraram agora em greve. O governador J. Serra dá sinais de hesitação e de recuo. Os grandes média começam a vacilar na sua habitual postura contra a “violência” de quem protesta. As reuniões negociais continuam, aparentemente sem sucesso. E na USP vive-se um “Maio de 2007”, que faz lembrar o de 68, em que a “cultura de greve” é parte do programa de actividades culturais da Reitoria ocupada desde 3 de Maio. Com as aulas paralisadas, os universitários, cunhados de radicais “desordeiros”, estão a dar uma lição às forças organizadas e aos partidos que se acoitam no poder.

O que há, afinal, aqui em comum? Há dois governos que era suposto serem de esquerda e estão a fazer a política do capital e de desprezo pelos que trabalham. De ataque ao Estado e em prol do privado. No caso, é o do Estado de São Paulo que está na berlinda, mas, ao fim e ao cabo, PT e BSDB são agora também aliados no governo central. No Brasil a precariedade é estrutural e as diferenças partidárias são cada vez mais indestrinçáveis. Em Portugal parece que seguimos o mesmo rumo. No momento espera-se que, num e noutro caso, as greves mostrem a importância fundamental da negociação – e do conflito – em democracia. Porque as democracias formais e os tecno-burocratas que as governam não chegam para resolver os problemas.

2007/05/26

Manuel Alegre apresenta "Doze Naus" em Coimbra

Título: Doze Naus
Autor: Manuel Alegre
Editora: Dom Quixote
ISBN: 978-972-20-3323-7
Ano de edição: 2007


Manuel Alegre estará presente na livraria Almedina Estádio, no próximo dia 1 de Junho (Sexta-feira), pelas 21h00, para o lançamento em Coimbra do livro Doze Naus. A apresentação da obra está a cargo de Abílio Hernandez, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

"Na poesia de Manuel Alegre — e não apenas naquela que obviamente imprimiu aos seus poemas a sua aura inicial — existe uma consciência profunda do tempo trágico que a título pessoal ou colectivo lhe foi dado viver (...) Porventura o mais dilacerado canto a um país impossível, a um destino colectivamente frustrado e idealmente exemplar, num momento em que o sentido da sua aventura vacila e se perfila diante de muitos portugueses como nebuloso ou mesmo inviável. "


(Organização: Ideias Concertadas)

2007/05/24

Uma história malfadada

( publicada no Diário de Leiria )

Portugal, país periférico, com uma burguesia frágil e demasiado dependente da protecção estatal, tarde conheceu o desenvolvimento capitalista. A história da 2ª metade do século XIX é feita do fracasso do nosso processo de industrialização. A 1ª República e Salazar são duas faces da mesma moeda. Representam duas tentativas de saída para a crise estrutural do incipiente capitalismo português.

A 1ª República deu a liberdade a uma pequena elite, manteve o sufrágio restrito, e desfez-se nas contradições geradas pela 1ª Grande Guerra e o défice público. O país permaneceu rural, analfabeto e inquieto. Salazar cavalgou o golpe sem rumo do 28 de Maio de 1926 e fez dele o seu destino.

António Ferro fabricou-lhe a imagem e o mito. Salazar, desconfiado do século, fez tudo para manter Portugal como uma caravela a vogar fora do tempo. Autoritário, temia a mudança e a liberdade. Procurou domesticar os portugueses através da hipocrisia moral, da censura e das polícias.

O modelo económico do Estado Novo assentava no corporativismo, nos salários miseráveis, no proteccionismo e no condicionamento industrial.

Marcello Caetano esboçou a modernização da economia e promoveu a “evolução na continuidade”. Todavia, incapaz de liberalizar o regime e de encontrar uma saída para a guerra colonial, acabou a viajar de carro blindado a caminho do exílio.

Após o 25 de Abril, os portugueses desejavam a liberdade e o bem-estar social. Mário Soares e Sá Carneiro asseguravam a democracia, os direitos sociais e a integração europeia. Depois de Eanes ter posto a tropa nos quartéis, a opção fez-se sem grandes sobressaltos. Cavaco Silva, à mistura com algumas alegorias do pensamento de Keynes, construiu infra-estruturas e a ilusão do progresso. O país mudou, cresceu, mas foi incapaz de romper o atraso em relação aos restantes parceiros da U.E.

Por outro lado, o sistema político rapidamente degenerou. As clientelas, o oportunismo, a falta de escrúpulos e a corrupção instalaram-se. Num país onde os direitos de cidadania nunca tiveram força de lei, o silêncio dos injustiçados começou a crescer, bem como a desconfiança nos políticos e nas instituições.

O desperdício de recursos e vontades transformou-se num modo de gerir a causa pública. À sombra do Estado, os negócios prosperaram e também não se queixam dos dias que correm.

Na vertigem do vazio, Guterres, amedrontado com a dimensão do pântano, deu-se por vencido. E Durão Barroso, com a cumplicidade de Jorge Sampaio, refugiou-se em Bruxelas para glória nacional. Após as trapalhadas do governo Santana Lopes/Portas, os portugueses, na sua misericórdia cívica e fé democrática, estavam maduros para qualquer um. Sócrates prometeu resolver a crise com a confiança. Portugal deu-lha.

Sócrates tornara-se conhecido por propagandear o Euro 2004 como um projecto grandioso e adequado a um país moderno. Um novo “desígnio nacional” caro e inútil, mas propício à fama de um político.

Agora temos Sócrates a aumentar os impostos, a cortar nas despesas dos serviços de saúde, nos medicamentos, nas maternidades, na educação, nas pensões, nos rendimentos das famílias, nas reformas e a prometer a revolução tecnológica para amanhã.

Sem estratégia nem tempo para superar os entraves estruturais do nosso atraso, tratou de montar uma sólida máquina de propaganda e desfraldou o populismo.

Em nome dos males da Pátria acusam-se os mais diversos sectores sócio-profissionais e, principalmente, os servidores do Estado.

O simples dever de esclarecimento da opinião pública está reduzido a um discurso demagógico e legitimador dos actos do poder. Anda no ar uma certa apetência pelo pensamento único.

O Governo, enquanto desmantela o Estado social, multiplica a criação de empresas de capitais públicos e continua a gastar milhões a sustentar gabinetes, consultores e avençados.

E do deslumbramento pelas novas tecnologias da informação começa a emergir uma poderosa e tentacular base de dados, que ameaça deixar desprotegido o cidadão face aos detentores do poder.

Anuncia-se um Estado exíguo, mas centralista, reduzido a funções mínimas de soberania e defesa, ao serviço de um pragmatismo de pretenso recorte neo-liberal. No fim da linha, à nossa espera, uma sociedade mais perversa e injusta.

José Vitorino Guerra

Eleições em Lisboa

A ideia com que fico é que, parece uma corrida em que ninguém quer perder e todos querem participar (aparecer). Para se tornar mediático não há nada como concorrer a umas eleições intercalares, em que não há mais nenhumas, isto é, os holofotes estão todos virados para os alfacinhas.

Tendo em conta a forma paupérrima em que vivem a maioria dos portugueses, não deveria ser permitido gastos supérfluos e os impostos dos contribuintes não deveriam ser utilizados para umas eleições provocadas a destempo. Quem deveria pagar esses gastos seria quem provocou esta bagunça. Esta eleição está viciada, o PSD,antes do jogo, já está a ganhar 1-o, pois tem a maioria na Assembleia Municipal e assim vai continuar. Faz-me lembrar passe a analogia, recuperar e remodelar uma casa por dentro e por fora, sendo obrigado a ficar com a mobília.
Carmona Rodrigues, António Costa, Sá Fernandes, Helena Roseta, Fernando Negrão, Manuel Monteiro, Garcia Pereira, Ruben de Carvalho, Sá Fernandes e Telmo Correia. Não há mais ninguém? Uma coisa é certa esta eleição vai ser fulinizada e não partidarizada. Existem duas candidaturas independentes de movimentos de cidadãos. Gostava de ver uma candidatura de movimentos de cidadãos contra o funcionamento dos partidos e o seu esclerosamento. As coisas estão a mudar e estão a fazer-se de outra maneira. Manuel Alegre não ganhou a eleição em que participou, mas teve o condão de fazer ver que é possível e lançõu as sementes para muitas independências.

[Joaquim Jorge, http://clubedospensadores.blogspot.com/, 24-05-2007] |

Conseguir o Impossível

Apresentação Pública no dia 29 Maio, Hotel Altis, Sala Milão, 19h

"Conseguir o Impossível" é o livro que conta a história da candidatura de Manuel Alegre às eleições presidenciais de 2006, nas bancas a partir do dia 21 de Maio. A apresentação pública ocorrerá no dia 29 de Maio, terça-feira, no Hotel Altis, sala Milão, pelas 19h, com apresentação de Manuel Villaverde Cabral, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Com capítulos de várias personalidades, do próprio Manuel Alegre e de voluntários que viveram a campanha, o livro conta-nos a história da estratégia adoptada, da organização do voluntariado e dos papéis da Internet e dos movimentos de cidadãos que se geraram à volta da campanha. Organizado por Helena Roseta, Manuela Júdice e Nuno David, o livro conta ainda com o posfácio de Nuno Júdice.

2007/05/20

O Estado “nuclear”

Elísio Estanque

Centro de Estudos Sociais,

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

O chamado “nuclear”, quer o da energia quer o do armamento, já foram temas quentes no passado. Na Europa e em Portugal os movimentos “anti-nuclear” tiveram a sua importância. Milhares de jovens chegaram a reunir-se em Ferrel (lá p’ra Peniche... como cantava o Fausto), contestanto a ideia de uma central de energia nuclear. E outras manifestações dos anos 80 lutaram pela paz e contra o armamento nuclear. Apesar de por detrás de algumas dessas acções em Lisboa se situar então, a Leste, um outro “núcleo duro” – um Estado que nada tinha de “nuclear” mas que era fortemente “pró-nuclear” –, o certo é que as funções do Estado, aqui no nosso cantinho luso, estavam então a expandir-se do núcleo para a periferia, e eram sobretudo sociais, não “nucleares”!

Sabemos bem como as palavras mudam de sentido e as expressões ganham rapidamente novas conotações e significados. No discurso público ou no seu uso comum a linguagem nunca é inocente. Fosse nos velhos slogans “abaixo a energia nuclear!” ou agora, na fórmula em voga das funções nucleares do Estado, o poder discursivo está na sua capacidade de legitimar e de criar identificações – viradas para a acção ou para a aceitação conformista. Se no primeiro caso ia no sentido do protesto e do contra-poder, no segundo, tratando-se de um discurso institucional, procura “transformar a força em direito e a obediência em dever” (Rousseau dixit), isto é, reforçar o poder.

E como as coisas mudaram! Aquilo que hoje se defende por ser “nuclear” não se deve a nenhum fechamento isolacionista mas antes a que o “núcleo duro” do Estado está, supostamente, preocupado com as ameaças externas (1), com o sentimento de insegurança (2) e com a necessidade de boas leis (3), para proteger as suas “periferias”, ou seja, para garantir segurança às populações em risco. É claro que estas, prefeririam outras prioridades porque, de facto, sentem que os riscos que correm são de outra ordem. Prefeririam por exemplo que se desse prioridade às outras funções – as sociais –, aquelas que outrora a velha utopia social-democrata dizia serem essenciais. Na verdade, uma das boas razões pela qual o actual poder executivo, ele mesmo inspirado nessa mesma doutrina, mereceu o apoio dos portugueses foi justamente a defesa das funções redistributivas e reguladoras, antes prometidas como requisito de uma “coesão social” que ia muito além daqueles três domínios, numa lógica mais horizontal e menos centrada num dado “núcleo” prioritário.

Porém, as exigências reformistas ditadas pela sacrossanta “eficácia” do mercado querem agora impor um novo laisser faire que reduza o Estado ao seu papel “nuclear”, para que o verdadeiro núcleo do verdadeiro poder (o do capital) prossiga livremente o seu caminho, em segurança, livre de quaisquer ameaças e tudo dentro da legalidade. Tais objectivos certamente reforçarão o poder desse núcleo, mas as consequências disso são imprevisíveis e podem ser as piores. Marx de um lado e Maquiavel de outro viram-se neste momento nos seus túmulos e dialogam. “mas este capitalismo e este Estado, além de cada vez mais irracionais estão a criar um novo precariado revolucionário!!” (diz o primeiro); –“deixa-te de sonhos idealistas! Os novos príncipes do séc. XXI estão a criar um forte exército de súbditos, bem pagos, para controlar essa plebe destroçada e sem futuro!!” (responde o segundo). Só no médio ou longo prazo saberemos se algum deles tem razão, mas em qualquer dos cenários os custos sociais não serão certamente prevenidos por meras funções “nucleares” do Estado.

(Blogue: http://boasociedade.blogspot.com)

2007/05/15

Petição

Recebi, por e-mail, esta petição sobre as demolições da baixa de Coimbra, para assinarem se concordarem

Alice Castro

Caro concidadão:

Uma parte importante da Baixa de Coimbra está a ser demolida pela respectiva Câmara. Mais uma vez, uma Autarquia delapida inconscientemente um património acumulado durante séculos. Em nome do progresso. Do progresso português.

A Alta já fora destruída, à décadas, para a construção de novos edifícios da Universidade e Coimbra não pára, assim, de ver empobrecida a sua memória.

Em consequência, e porque urge pôr um ponto final em tais actuações, lançamos uma petição a fim de evitar mais esta descaracterização que levaria à perda de um dos já poucos centros medievais existentes no País.

Assine e divulgue, ajudando Coimbra a guardar o seu carácter.

O texto da petição está no nosso site: www.oprurb.org.

http://www.oprurb.org./aa.php?id=4&lg=pt
peticao directo

Lisboa, 09 de Maio de 2007.

2007/05/14

Irritações

( no JN de 14 de maio )

Não se sabe para onde caminha 2007. Mas adivinha-se. Sabe-se que, no ano passado, o poder de compra dos portugueses voltou a cair. E que é preciso recuar até 1984 para encontrar um período tão penoso. Nem na crise de 1993, nem em 2003, o último ano de recessão, as remunerações de quem trabalha por conta de outrem sofreram tamanha penalização. Sabe-se que, este ano, vamos voltar a ter a pior taxa de crescimento de todos os países da União Europeia e que, apesar da contenção orçamental, Portugal deverá ser o único membro da zona euro a manter um défice excessivo. Há aspectos positivos, claro. A custo, muito a custo, sempre conseguimos beneficiar alguma coisita com a retoma europeia. Pouquinho. Mas é melhor do que nada.

Os dados, que irritaram o ministro das Finanças, constam no relatório semestral da Comissão Europeia. Teixeira dos Santos nega e diz que Bruxelas não sabe tudo sobre a nossa economia, questionando o modelo de previsões utilizado. Mas, se a Comissão não sabe, das duas uma ou é o Governo português que na sua visível modéstia não dá conta desses grandes avanços, ou há evidente malvadez da parte de quem manipula os números. Resta, claro, a terceira hipótese. A de que, de facto, os portugueses não sentem por igual o lento andamento da economia e a queda do poder de compra. Ficam de fora os gestores de empresas, públicas e privadas, seguramente dos mais bem pagos da Europa. Não é por acaso que Portugal, cujo Governo até já vendeu a política dos baixos salários como uma vantagem competitiva para os investidores, é tão apetecido por quem tem a missão de gerir
Largos, dias, Domingos, de Andrade, Chefe de Redacção

2007/05/13

A Comissão Coordenadora do MIC de Coimbra lamenta informar, a todos os amigos e companheiros, o falecimento do seu sócio fundador António Augusto Cantante Fernandes, e que o seu funeral se realiza amanhã, dia 14 de Maio, às 17h 30m, da Igreja da Ereira, Montemor-o-Velho, para o cemitério local.

2007/05/12

Era uma vez, a 12 de Maio ...

"

Uma vez, tinha eu 6 anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado " Histórias Vividas". Era uma jibóia a engolir uma fera. (...)
(...) O livro explicava: " As jibóias engolem presas inteirinhas, sem as mastigar. Depois nem sequer se podem mexer e ficam a dormir durante os seis meses que a digestão demora".
Então, (...) peguei num lápis de cor e acabei por conseguir fazer o meu primeiro desenho. O meu desenho número 1. Era assim:

Fui mostrar a minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei-lhes se o meu desenho lhes metia medo.
As pessoas grandes responderam: " Como é que um chapéu pode meter medo?"
O meu desenho não era um chapéu. O meu desenho era uma jibóia a engolir um elefante. Para as pessoas grandes conseguirem perceber, porque as pessoas grandes estão sempre a precisar de explicações, fui desenhar a parte de dentro da jibóia. O meu desenho número 2 ficou assim:

As pessoas grandes disseram que era melhor eu deixar-me de jibóias abertas e jibóias fechadas e dedicar-me antes à geografia, à história e à matemática. (...)
(...) Evidentemente que, pela vida fora, tive uma data de contactos com uma data de gente importante. Vivi muito tempo no mundo das pessoas grandes. Vi-as bem de perto. Não fiquei com muito melhor opinião delas.
Quando encontrava uma que me parecia um poucochinho mais lúcida fazia-lhe a experiência do meu desenho número 1. Queria apurar se ela era mesmo capaz de perceber alguma coisa. Mas, invariavelmente, todas respondiam: " É um chapéu ". Então não me punha a falar de jibóias, de florestas virgens ou de estrelas. Punha-me ao seu nível. Falava de bridge, de golfe, de política e de gravatas. E a pessoa grande ficava toda contente por ter conhecido um homem com tanto juízo. (...) "

PARABÉNS, MANUEL ALEGRE

( extrato retirado do livro " O Principezinho " de Antoine de Saint-Exupéry )

2007/05/10

Uma rosa para Helena Roseta



Pela vontade, pela coragem, pela atitude

BOA SORTE

E nós, que lhes respondemos?

2007/05/08

A Culpa não é de Coimbra

Coimbra não vive os seus melhores dias.

Longe vão os tempos em que “ser de Coimbra” valia um estatuto diferenciador do resto do país. Essa Coimbra tinha qualquer coisa mais ou para além do que identificava as outras cidades. Disso nos orgulhávamos, nós, os de Coimbra.

Dentro ou fora das suas muralhas era “isso” que arrastávamos dentro de nós. E “isso” era, afinal, o quê? Creio que tinha a ver com uma certa aprendizagem do mundo, um olhar a um tempo sereno e inquietante sobre a sociedade, o culto dum humor particular, inteligente, uma reconhecida maturidade intelectual.

Creio ainda que “isso” tinha raiz no nosso território colectivo – o espaço em que nos movimentávamos, lugar antigo e significante, sítio de história continuada - a de ontem, presente nos túmulos da Igreja de Santa Cruz, nas pedras da Baixa medieval que viram partir D. Pedro, ou nas calçadas da Alta sábia e boémia, que acolheria muitos dos mais expressivos movimentos literários portugueses, mas também a história dos dias mais próximos, em que o cenário seria a Universidade ou a A.A.C. e os estudantes protagonistas dos novos caminhos para a Liberdade e a Democracia.

“Isso” era também o treino das tertúlias nos cafés, nas livrarias, entretanto desaparecidas.

Tudo “isso” contribuiu para acrescentar à cidade um certo impulso criador e genuíno e munir os seus munícipes de uma certa atitude de exigência e questionamento.

Não sei para onde foi tudo isso!

Esta Coimbra é uma cidade conformada e “quietinha” (como diria Teixeira de Pascoaes). Demitiu-se da sua responsabilidade histórica, da sua tradição municipalista, da sua vocação universalista.

Recuou nos seus objectivos de cidade de marca, desistiu do seu reencontro com os sinais do mundo contemporâneo, perdeu o passo nos palcos da cultura, asilou-se na província e ficou assim, como agora a vemos – uma cidade à qual ninguém faz vénias, adormecida na ausência da sua importância.

Por mim não me conformo!

Mas quem lhe aponta outro caminho?

Observo os registos dos diferentes protagonistas do nosso quadro democrático local e só detecto frouxidão, silêncios e até estranhas cumplicidades.

Espero mais e melhor!

Não me basta, como parece bastar a um conhecido professor universitário, em entrevista a um diário local, que “o vereador da cultura pelo menos, dinamizou uma comissão de Toponímia”.

Eu, munícipe de Coimbra quero mais e quero outra Coimbra, depressa! Entretanto alguém há-de pagar pelo estado das coisas. Esta desgovernação, aliada a uma enorme incapacidade e incompetência, tem nome e tem uma identificação partidária.

Para que não se diga depois, como António Nobre em “Carta a Manoel”,

“Manoel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.

Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,

Foi Coimbra.”


Teresa Alegre Portugal

2007/05/05

Que Futuro?

Para onde nos levará este portão? Para onde nós quizermos ou "eles" quizerem?

Também está nas nossas mãos!

2007/05/04

A amizade, segundo Torga


À letra, José Leite, Pereira, Director

Nem Carmona Rodrigues nem Marques Mendes. Nem política sequer. Escreverei hoje sobre Miguel Torga . Ou melhor, citá-lo-ei, em sua homenagem a propósito do Congresso que decorre em Coimbra. Do Diário XVI, com data de 28 de Dezembro de 1990, seguramente um dos melhores textos sobre a amizade escrito em língua portuguesa

"Visita do pároco de S. Martinho. Telefonou-me a dar as boas-festas, advinhou pelo tom da minha voz o meu estado de saúde, e meteu-se a caminho. Almoçou, bebeu do melhor vinho da garrafeira e regressou agora, rijo e fero como sempre, depois de uma longa conversa. Meu vizinho de porta, é ele que me olha pelo quintal. Contou-me do acasalamento dos melros que ritualmente fazem ninho na sebe de avelaneiras que nos estrema, da recuperação da eira arruinada de que somos consortes, das páginas que escrevi sobre a nossa escola, que tem sempre na memória, dos enxames novos que acrescentou ao colmeal. Quatro horas de paz bucólica. Da paz rural em que vive e que não lhe invejo, mas gostava de ter merecido também da vida. De todos os da nossa criaçãoé ele o único que me lê. Sobe, de livro mão, os montes onde caçámos juntos, e saboreia no alto, sem pecar, as minhas heresias. Preguei-lhe neles, incansavelmente, durante anos, a santidade da poesia".

Resta dizer que o pároco de S. Martinho, o padre Avelino, continua, hoje, nos seus 93 anos, "rijo e fero" como sempre. Confirmei-o ontem. E sempre saudoso do seu velho amigo , que admira e dá a conhecer onde quer que vá. Ele merece bem as palavras de Torga. E nós, simples leitores, perdidos num tempo em que os valores vão e vêm movidos por ventos diversos, bem podemos meditar no fruto destas quatro horas de conversa entre dois homens bons e, porém , tão diversos.
( publicado no JN, 04/05/2007 )

2007/05/02

Sindicalismo – do ‘prec’ aos precários...


Pode dizer-se que o sindicalismo português nasceu com o PREC. O processo revolucionário em curso, que havia de levar ao socialismo, com os sindicatos e o operariado na vanguarda dessa luta. No princípio era a vivência da liberdade, era a alegria – estava o povo todo contente, como dizem agora as nossas crianças –, era a emancipação vivida no colectivo (ilusória mas real), traduzida em abraços, vês de vitória, sorrisos cúmplices e gestos solidários. Os humilhados e explorados, os trabalhadores, os sectores oprimidos e perseguidos pelo fascismo, tiveram então uma voz, gritaram em uníssono “fascismo nunca mais!”, “abaixo o capitalismo!”, “viva a classe operária!”, “viva o socialismo!”.

O movimento sindical português pôde finalmente organizar-se livremente e mobilizar os trabalhadores numa luta que tinha tanto de reivindicativa como de política. Isto tudo ocorreu no grande mar de utopia em que navegava a esquerda da época. Era a dinâmica das bases que comandava, que ultrapassava as estruturas dirigentes e os partidos políticos. Se bem que estes nunca deixassem de espreitar o momento de cavalgar os movimentos populares e, no campo sindical, já se digladiassem para o controlar.

A institucionalização dos sindicatos, decorreu sob os efeitos desse contexto. Daí que, a versão mitigada e tardia de “Estado-Providência” que se conseguiu em Portugal levasse no seu seio a cultura sindical da época. O seu protagonismo e capacidade negocial aumentavam na mesma medida em que se reforçava a lógica burocrática e a mítica classe operária se ia “desfazendo no ar” (como tudo o que é sólido...). Adeus prec!

Passada a “ressaca” revolucionária, o movimento sindical português não conseguiu encontrar outras respostas senão o discurso defensivo e ressentido. No plano político, via cada vez mais longe o sonhado paraíso socialista e, no plano laboral, via recuar todo um conjunto de conquistas e de direitos julgados irreversíveis. Não conseguiu conjugar a actividade dirigente com a mobilização das bases, nem a negociação de cúpula com a democracia nas empresas, nem o discurso de resistência e denúncia com uma efectiva prática democrática interna que lhe permitisse renovar-se.

Se no sector público os direitos laborais resistiram até mais tarde, no sector privado foram desde cedo ignorados e torneados de mil maneiras. Com as empresas a encerrar e a estabilidade do emprego cada vez mais ameaçada, a precariedade e a insegurança apoderaram-se do operariado, afastando-o dos sindicatos. Durante décadas as manifestações do 1º de Maio (tornadas meros rituais) foram gritando contra, mas fazendo cedências, resmungando, mas aceitando cada vez mais concessões.

A globalização neoliberal, desencadeada a partir dos anos 80, intensificou esse processo e, de ano para ano, os níveis de filiação sindical do sector industrial sofreram reduções drásticas. As estruturas sindicais, apesar do discurso em nome da classe trabalhadora (e contra os ataques às conquistas alcançadas), foram-se acomodando à situação e vivendo sobretudo da única base sólida que lhes restava: os sectores da administração pública.

O problema é que o ataque aos direitos laborais expandiu-se do sector industrial aos serviços – banca e seguros, sobretudo – e hoje atingem já a generalidade do mercado de trabalho, inclusive as áreas do emprego até há poucos anos mais estáveis e seguros. Hoje, somos todos precários. Flexibilidade, mercado, tecnologias, mobilidade, competitividade, blá, blá..., são os tópicos da moda governamental que temos vivido. Esta retórica tem cada vez menos credibilidade, sobretudo num país como o nosso, com todas as deficiências e atrasos que se conhecem e onde as pessoas, os trabalhadores e os desempregados, o que mais anseiam é protecção e segurança. E esse garante só pode ser o emprego. Não é com mais facilidade em despedir que a produtividade aumenta. É com inovação e estabilidade. É com mais oferta de emprego, qualificado e estável.

Os novos explorados são também aqueles – jovens escolarizados com menos de 35 anos – para quem o termo “prec” significa provavelmente precário. Eles não são sindicalizados nem compreendem o actual discurso sindical, o qual, está – reconheça-se – bastante gasto! Ora, creio eu que qualquer iniciativa que procure congregar e mobilizar o cada vez maior segmento dos precários terá de passar por novas modalidades de organização (sindicais, associativas, culturais, etc) e por um novo discurso que seja aliciante para uma juventude qualificada, moderna e informada. Uma juventude onde o desemprego cresce assustadoramente e que só tem razões para estar descontente e cada vez mais revoltada. Acredito que por aí passarão as novas formas de conflitualidade social do século XXI. É preciso que o sindicalismo saiba perceber isso e saiba agir em consonância com a nova realidade social e laboral.

Elísio Estanque, Centro de Estudos Sociais Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

2007/05/01

Viva o 1.ª de Maio


As cegonhas, e muito bem, são uma espécie animal protegida pelo Estado para impedir a sua extinção.

Para quando a raça humana, e especialmente os que pertencem ao mundo do trabalho, terão direito ao mesmo tipo de protecção?